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9.3.06

Qual é a ideia do novo BES? (Tempo I) 

O tempo é uma das mais importantes componentes do trabalho de um designer. Está presente em todo o processo e é um factor essencial a ter em consideração em qualquer projecto. Qualquer metodologia em que o processo de trabalho se divida implica uma separação de operações, uma calendarização e um cumprimento sujeito a quantidades de tempo maiores ou menores, intercaladas ou simultâneas. O domínio do projecto é em grande parte a capacidade de gerir as várias fases do processo bem como o controlo do tempo de contacto com o cliente, desde o briefing inicial até à entrega.
O tempo para o designer é sempre desequilibrado. O prazo é sempre apertado, o cliente quer o trabalho no mínimo tempo possivel para só pagá-lo no máximo tempo possível.
É fácil para um designer ter noção do tempo a passar. Momentos de grande agitação e de presenças assíduas à sua volta intervalam com momentos em que não tem ninguém à volta e onde se aproveita para “esvaziar” a cabeça de todos os pormenores do projecto que passou na esperança de consolidar uma visão fresca e atenta do que virá.
E há uma concepção de tempo que julgo ser competência do designer introduzir permanentemente no projecto em mãos. Qualquer que seja o objecto a conceber, apenas será utilizado no futuro; ou seja, o objectivo de qualquer esboço deve ser a certeza da sua presença no tempo que há-de vir e de medir as implicações dessa integração temporal. O tempo de concepção e o tempo de utilização nunca são os mesmos, de nada valendo o menosprezo desta importância.
As grandes marcas nacionais que recentemente têm apresentado novas identidades visuais, apresentam igualmente um défice de ideias novas. Entre BES, Continente, TMN, EDP, Totta, para citar as mais recentes, há muita coisa em comum. São matérias da responsabilidade de agências de publicidade, mesmo que em parceria com gabinetes de design de onde se consegue extrair a influência e a redução de interesse das imagens apresentadas, essencialmente no seu fraco prolongamento para as campanhas de comunicação, nomeadamente de apresentação da nova marca. Formalmente fazem o possível para se assemelhar às restantes numa clara deturpação populista do que é ser “actual”, o que invariavelmente termina com o arredondamento de letras e simbolos. E sobretudo dizem todas respeito ao passado. Não há em nenhuma delas uma proposta para o futuro, não há uma diferença em relação às outras a não ser a obtenção de um cromatismo próprio para justificar um posicionamento isolado no mercado em cada uma das suas áreas de competência, no que é uma quase irreversível lógica de redução da comunicação aos básicos pressupostos do marketing.
No caso do BES, o último a fazê-lo (tudo indica que a Caixa Geral de Depósitos será a próxima), o caso complica-se. Porque sendo uma “nova” imagem está presa ao passado e ainda escolhe como conceito para colocar em quase todos os suportes de comunicação o “Futuro”; porque afirma através de um dos seus responsáveis, na televisão, que mudaram de imagem, não mudando quase nada. O simbolo pouco mudou e a cor (só) ficou mais clara.
O BES quer aliciar um público mais jovem, pretende ganhar dinheiro com quem tem menos idade, para isso coloca “Futuro” em todo o sítio, para isso lançou já uma campanha de Crédito à Habitação, para isso afirma que mudou de imagem sem nunca o ter realmente feito. Onde está a ideia de futuro?

5.2.06

Amigos e dinheiro 

Sempre tive o hábito de considerar os cursos de Design no Ensino Superior como algo mais do que uma simples preparação para o trabalho desenvolvido fora da Academia. Sendo que a média destes cursos percorrem quatro anos de formação, parecia-me credível haver tempo, espaço e disponibilidade para elevar as exigências e possibilitar aos alunos a criação e/ou compreensão de metodologias capazes e eficazes para que nem todos os formados caíssem nos mimetismos, por vezes estagnantes, por vezes inúteis dessa criação do ensino que é o “mercado de trabalho”.
Continuo a acreditar nisto. Mas com uma notável excepção: não acredito que estes cursos estejam, de facto, a preparar seja quem for, de modo conveniente, para o pânorama actual e futuro de trabalho real na área a que se propõem. Ou seja, continuo a crer que a formação superior deve servir para uma boa e elevada preparação dos alunos para as dificuldades, desafios ou expectativas da realidade fora do âmbito académico e da sua superação através de um contributo gradual e colectivo da aposta do índividuo observador, criador, analítico e objectivo; por tal contribuinte de um melhoramento do mundo e da cultura material. Mas se me apercebo que os cursos de Design do Ensino Superior nacional não requerem este esforço intelectual e conceptual, esta mais valia projectual; é ainda mais grave e decepcionante constatar que também não desempenham com eficácia o primeiro objectivo no qual os principais responsáveis dos mesmos se lançam e por vezes se regozijam. Os planos curriculares são estabelecidos numa escada onde apenas no último degrau é dada atenção às matérias de índole mais negocial e administrativa, como se estas fossem um acréscimo à fabulosa preparação projectual que os mesmos não têem. Como se na maioria dos casos (convém não esquecer o elevado número de designers que Portugal anda a formar por ano), os primeiros anos de trabalho não defrontassem estas questões e até se debatessem insistentemente com elas.
Isto não será difícil constatar, a obtenção de um primeiro emprego, seja directo ou por vias de estágio (por vezes mais do que um), a ignorância sobre questões que deviam ser dominadas como o tipo de emprego a procurar (num atelier, numa agência, numa empresa não directamente ligada ao design) por análise pessoal das características e das valências individuais, o desconhecimento das hipóteses e processos de formar uma empresa ou ideia própria, os meios de divulgação das mesmas; a importância da constituição de um portfolio relevante, a ingenuidade perante as regras dos contratos de trabalho e outros casos não tão pontuais como desejados: as avenças, os recibos verdes, etc.
E acima de tudo, o que durante a formação todos os docentes escondem ou procuram evitar dizer: o social. «Friends and money.» é o que Alexander Gelman diz ser essencial para o designer actual e não espantará que no nosso país, também isso prevaleça. Será melhor designer quem tiver mais amigos e em melhores posições, porque vai transformar isso em oportunidades de negócio, ou em grande quantidade ou em grande qualidade.
Resta saber se os docentes do Ensino Superior não o dizem porque não acreditam ou porque não concordam. De qualquer das maneiras não será pertinente, sabemos que a maioria não se dedica ao design, só ao ensino.

5.2.05

Um! O primeiro? 

O teórico do design observa, comenta, indaga, problematiza, mas no limite do seu esforço não resolve nenhum problema. Compreende as situações, os tempos, os objectos; descreve-os com rigor e novidade por vezes, posiciona-os com audácia, disseca-os e apresenta-os sob nova perspectiva. Contudo peca por não se relacionar directamente com o processo, por não acautelar um conhecimento que se distancia da sua intervenção e por tal, tido pelo teórico como menor.
O designer comum compromete-se com o projecto na totalidade do seu tempo, pensa, pesquisa, esboça, resolve, mas escapa-lhe o controle do que se passa, perde nesta cadeia de obstáculos uma visão aprofundada sobre as matérias que constituem o seu trabalho, mesmo que ele as negue.
O primeiro não mergulha no fazer, não conhece condicionantes, atrasos e retrocessos, problemas dispostos numa rede humana e material. Afasta-se para um estudo mais recatado, específico e portanto de menor interesse generalista. O segundo não acredita na mais valia do questionamento como factor de impulsão do desenvolvimento dos projectos e não procura o constante balanço.
É precisamente neste limbo que este blog se encontra, porque a teorização sobre uma actividade deve ser séria, olhando os conflitos e discrepâncias que ela origina, porque essa mesma teorização é realizada sobre uma prática que levanta discussões, perguntas sem resposta fácil e imediata; mas também porque essa teoria pretende, ou a isso deve aspirar, resolver situações ou aproximar-se dos anseios de quem nela se envolve. Uma aluna escreveu-me «não creio que seja um crítico de design, mas sim um designer crítico.»; na admissão que se trata de uma ligeira dicotomia o que aqui se passa e deve continuar a passar, pois as matérias a tratar estão longe de vislumbrar um papel sólido, prolongado e respeitável para o designer em Portugal.
Faz hoje um ano que o DesignerX está presente no pânorama do design em Portugal. Alguns receberam-no com a dúvida natural de quem por cá trabalha, outros alegraram-se, sobretudo os estudantes do ensino superior, que sequiosos por informação, discussão e conhecimento, viram no blog uma alternativa ou um complemento à por vezes paupérrima aproximação feita nas suas escolas.
A importância que tem ou não cabe a outro alguém julgar; certo que dependerá dos seus visitantes, designers, mas não só, a sua continuidade, a sua oportunidade e a sua relevância. Seguramente faz sentido dispor a escrita sobre a matéria enquanto houver necessidade de diálogo e debate, de questionamento e exposição de ideias e processos. Parece útil dado o contexto nacional.
Portugal em termos de design irá desenvolver-se, prosperar e até, esperemos, surpreender. Quando um grupo alargado de indíviduos deixar a profissão, deixar de leccionar, deixar de influenciar (ou não) os clientes e as instituições. Quando surgir a verdadeira hipótese para todo um conjunto de bons profissionais tomar a direcção de uma actividade, que se quer ampla e unida, no mercado e no ensino, na prática e na teoria. Será um processo longo e demorado, não só pelas características periféricas que temos como pelo traço comum que parece reunir quem impede esta natural e saudável alteração.
Até lá estaremos atentos.

20.1.05

Standardização 

Sempre desconfiei dos que assumem que o design não é arte. Encobertos pela disponibilização dos seus serviços, alguns lá se vão convencendo que o que fazem é simplesmente economia, comércio, adequação de vontades, cumprimento de pedidos, respeito pelos budgets, deadlines, know-how, targets, mock-ups... Para mim esta descrição de vendedor compõe a figura do designer incompetente, aquele que não tendo visão, compreensão e capacidade para gerar e criar novos objectos visuais, decide refugiar-se no seguro caminho das catalogações, estereótipos, templates e demais reduções da prática, do processo e do tempo.
Design não é arte por não ser pintura ou escultura ou instalação? O designer não pode (ou não deve?) criar por si próprio, devido à imposição de uma encomenda, à presença de um cliente, necessitando obrigatoriamente de objectividade? Mas então e as encomendas feitas a artistas, muitas das vezes com o tema e o estilo já escolhido? Ou mesmo projectos transversais apresentados hoje, inclusivé em Portugal e que são mais pensados pelos comissários do que pelos próprios artistas? Não haverá espaço para a utilidade na arte?
Seja qual for a posição assumida e a escolha profissional de cada um, no mínimo a presença da arte no design é algo indubitável. O que muitas das vezes os aficcionados do comércio, das vendas, do marketing se esquecem, é que a génese da actividade encontra-se precisamente na integração da arte na indústria. É o papel inicial do artista no controlo do processo e resultado industrial que determina a existência de uma prática actual.
Hoje, a arte no design sofre um retrocesso. Se no ínicio o propósito era colocar a Arte à disposição do trabalho efectuado pela máquina, e portanto próximo de um público mais generalizado e não elitista, agora absorve a tecnologia e molda-se a ela. Uma consequência ou ramificação decadente deste entendimento é a standardização dos objectos. Neste sentido, os produtos da indústria fazem-se como se supõe ou como se impõe,seguindo exemplos e modelos, regras cuja criação se desconhece mas circulam e cujos benefícios são mal previstos. Aqui a arte não serve nenhum propósito, ela é antes decoro e elemento de uma fórmula.
Feita a análise ou observação dos objectos pertencentes à nossa cultura material, sobra pouco de artístico neles, pois é gradual a diminuição do papel intelectual e criador do designer, em deterimento de uma suposta segurança comercial - ideia abstracta e nunca devidamente fundamentada. É inconcebível que a colocação dos títulos centrados se venda melhor do que alinhados à esquerda, que com uma sombra este seja mais apelativo, que se for maior no tamanho é também em legibilidade. Conclusões retiradas de um mercado constituído por quem acha sempre qualquer coisa sobre todo o assunto e nunca se baseia em estudos ou apreciações objectivas e científicas.
Esta standardização é então uma "pedra no sapato" na medida em que inibe o desenvolvimento e a fertilização de ideias, a germinação de novas opções, o elemento de surpresa e por isso mesmo, a capacidade económica e a regeneração industrial. Transforma também qualquer nova situação e aproximação ao solucionar de problemas como exclusiva alimentação das elites, rotulável e por vezes "desprezada".
Alimenta inclusivé a certeza de uma população que se pensa evoluída, em considerar opiniões do foro estético e subjectivo, quando na realidade se encontra a anos-luz de produzir um corpo de conhecimento ou emissão de opinião pertinente, actualizada e considerável sobre qualquer objecto em questão.

9.1.05

«Think more, design less.» 

É o que Ellen Lupton costuma dizer aos seus alunos no Maryland Institute College of Art em Baltimore, Estados Unidos. Pretende com isto que sigam ideias e conceitos próprios, não optando por orientar os seus projectos pelo estilo ou pela tecnologia. Num contexto onde a proliferação de objectos e do próprio serviço é já considerado excessivo, surge com naturalidade este apelo a uma reflexão, à consideração de um processo que se deve pautar sobretudo pela pertinência e pela presença de objectivos simples. A utilização de ferramentas digitais proporciona uma conclusão apressada, a de que a extensão dos projectos pode ser encurtada, levando inevitavelmente em vários locais à supressão do tempo de gerar ideias, o mais necessário de todos. É claro que se David Carson tivesse seguido o conselho nunca se teria destacado como um designer intuitivo e de uma capacidade infindável de produção.
Mas a frase transporta mais significado do que este. Para além de se tornar importante para a aproximação e compreensão que fazemos do processo, seja ele o praticado no ambiente académico ou no local de trabalho, mal não faria se afastando do seu objectivo pedagógico, a contextualizássemos no método profissional da actividade.
Prepassa-me uma sensação que, concentrado mental e temporalmente no seu projecto, falte ao designer, por vezes, a noção de como orientar o seu trajecto profissional. O que acontece em demasia, provocado não apenas por esta aventura tecnológica, mas acima de tudo porque o designer não "conduz" o seu processo de trabalho; ele é antes, "conduzido", permitindo que a sucessão de acontecimentos o responsabilize directamente, sem que tal seja feito de modo auto-consciente.
O melhor exemplo que temos será o dos concursos. Em Portugal, na área do design gráfico, são raros os objectos visuais que são criados sem ser por concurso. Seja o convite público ou restrito, as demais entidades pedem ante-projectos com a mesma arrogância e surrealidade que entrar num restaurante e pedir n pratos para escolher o que mais apraz.
Vamos supor que estes concursos são transparentes (que não são), organizados por entidades que sabem o que querem (que não sabem), que respeitam os designers a quem se dirigem (que não respeitam) e que não irão, de modo algum, escamotear as regras morais e profissionais (que escamoteiam). Vamos supor tudo isto para reduzir o escopo da mensagem que aqui se tenta passar.
Um "profissional" só o é quando pratica uma profissão, ou seja, faz de uma actividade o seu dia-a-dia e depende financeiramente dela; não se confunda profissionalismo com competência, por muito rigorosos que sejam os designer por cá, a verdade é que existe uma larga quantidade que é semi-profissional, quando aceita participar nestes concursos. A maioria sabe que não vai ser escolhida, seja por razões de gosto, de favorecimentos ou outros e que estes concursos não cobrem as despesas e honorários das propostas não seleccionadas; o que equivale a uma parcela, por vezes considerável, de trabalho não remunerado.
Costuma-se dizer que tempo é dinheiro, só os designers não sabem ou não se lembram disso, preferem dispender tempo em projectos que não se vão cumprir do que em cimentar uma relação mais esclarecedora com a comunidade.
O segredo da actividade está em dois pressupostos colectivos e generalizados: atitude e confiança. Marcar uma posição determinante, no que diz respeito aos métodos de trabalhos que proliferam no mercado e elaborar uma estratégia que ganhe a confiaça da sociedade, seja pela educação, seja pelo explicitar das vantagens inerentes à actividade.
Ora um designer que não queira tornar a sua posição na sociedade melhor e que não queira trabalhar no sentido de esclarecer aqueles que serve, não estará a pensar muito.

23.12.04

Dediquemo-nos ao ensino 

É susceptível de criar dúvida, qual a direcção de algum ensino superior nacional em matéria de design. É razoável por uma questão de localização e não apenas pela escolha dos futuros frequentadores destes cursos. É causa de indecisão inicial e de incerteza considerável nos locais de trabalho. São os ex-alunos criadores/pensadores ou técnicos qualificados?
O modo como se inserem no tecido empresarial deriva significativamente do processo da sua formação; ou antes, devia. Daí que seja justificada a substituição da pergunta anterior pela de saber se os cursos superiores de design devem preparar os alunos para o mercado de trabalho ou para a nobre tarefa de "ensinar"? Ou se faz o esforço de compreensão do que é o mercado de trabalho, actualmente e num futuro próximo, ou se organiza e estrutura as matérias constituintes da disciplina.
Há uma firme convicção da parte de algumas instituições, que estas devem disponibilizar um género de ensino que de algum modo apresente perspectivas positivas sobre o futuro profissional individual. Afinal, a educação parece fazer parte de um plano integrado de desenvolvimento em que é urgente suprir as nessidades do mercado e da indústria e por conseguinte, dotar o mundo laboral de competências técnicas e de jovens capazes e competentes. É como se cada instituição elabora-se uma estratégia de marketing antevendo a forte concorrência. Torna-se obrigatório mostrar resultados, práticos e profissionais, nem que seja a algum custo.
Mas falando em marketing, quem frequenta afinal esses mesmos cursos, quem justifica a sua existência e quem, em ultima análise, a providencia? A quem deve ser dirigido o discurso desses cursos e de que modo deve ser orientado? O manual dirá que deve agradar o potencial público-consumidor, neste caso frequentador.
Numa das últimas estatísticas do Icograda perguntava-se: «Should graduate design programmes focus on redefining Graphic Design, or producing students tailor made for industry?», ou seja, deverão os cursos ser orientados para a definição ou redefinição da disciplina e da actividade ou estar preocupados em formar alunos adaptáveis à indústria? E se 48% respondeu ambas (uma resposta claramente confusa e pouco elucidativa, considerando os recursos da maioria das instiutições, sobretudo a nível de recursos humanos), 47% prefere a primeira opção, havendo apenas 9% a quererem sair "engomados" para o mercado.
Que seja eu a dizê-lo, alguns poderão não atribuir importância, mas quando se trata de uma sensação geral, é uma clara falta de informação dos responsáveis pelos próprios cursos.
Haverá, seguindo esta vontade, um colapso da indústria? Julgo que não. Perderiam certas instituições em prosseguir este plano e necessidade (porque não afirmá-lo)? Julgo que não. Teria que haver um novo levantamento de competências, qualidades, discurso, debate? Certamente que sim. Teriam que se realizar mais eventos, mover mais pessoas, mais recursos? Certamente que sim. Mas acredite-se ou não, este não parece ser um "receio". Em Portugal, estamos a passar ao lado daquilo que é a direcção da restante Europa, não por falta de recursos ou demais preocupações correntes em outras áreas, mas por pura escolha.
Não deixa de ser algo descrente, contudo, a inoperatividade da primeira ideia. Pois se é previsto dispor um curso para o "mercado" de trabalho, não deveria haver estágios profissionais inseridos? Não haveria convidados frequentes apresentando resultados de trabalho? Não haveria programas de inserção em ateliers, agências, empresas? Não teriam os professores que saber o que se passa na actualidade e portanto serem eles parte integrante desse "mercado"? E que ideias têm então os responsáveis sobre como adaptar uma estrutura curricular às ditas urgências da indústria? Incluir formação na área informática e ceder que a sua melhor hipótese é incluir o ensino de Flash, 3D Studio, Dreamweaver em cursos que à partida não estão relacionados a estas tecnologias? Não será essa a tarefa de escolas de ensino tecnológico, permitindo assim diferenciar as propostas de ensino e permitindo ao potencial aluno a escolha de uma ou outra?
Ensinar não deve invalidar a observação da prática profissional fora dos círculos académicos, mas dirigir um Bacharelato ou uma Licenciatura com base numa concepção abstracta e desprezar, dentro da herança projectual, as hipóteses de renovação é introduzir descrédito quando um programa se quer competitivo.
A própria designação de "mercado" de trabalho torna-se incompreensível; esta é antes, seguramente, uma ideia, uma noção, extremamente abstratizada da situação. Dificilmente alguém conseguirá definir sem descurar a sua amplitude e complexidade. A isto acresce o facto de ser frequente o seu uso por parte de docentes que não participam dele enquanto designers.
A recusa torna-se teimosia.
E se já quem frequentava os cursos reinvindicava a mudança, a verdade é que não só algumas partes do processo de ensino, como inclusivé o próprio "mercado" o começam a fazer. Os sinais estão por toda a parte.

30.11.04

País-disparate 

Em Massive Change, publicado recentemente, Bruce Mau inicia com «For most of us, design is invisible. Until it fails.»; a percepção deste fenómeno consubstancia um impulso na construção de soluções optimizadas para uma determinada realidade. O nível de atenção sugere que design é pensar sobre a vida e que mesmo ao compreender que a actividade se destina à elaboração de invisibilidades, que sustentam a própria vida, ela é indispensável pois a sua ausência causa desequilíbrios. É também indicador que mais do que escolher um tipo de letra, mais do que decidir uma cor, mais do que escolher papéis, design é absorver o quotidiano, as questões, as verdadeiras necessidades; sobre elas reflectir e indagar soluções positivas. Será portanto um disparate, perante a constatação da falha, não agir sobre ela.
Há quem discorde, defendendo-se com um suposto e miserável pragmatismo, co-relacionado com o tempo dispendido sobre um único projecto; algo que se tornou objectivo de recorde por estas terras. Estranho que assim seja, devido aos inúmeros exemplos disponíveis pelo mundo fora, de aproximações diametralmente opostas mas que contudo apresentam vantagens irrefutáveis.
Em False Flat, Why Dutch Design is so good, duas das primeiras páginas apresentam um mapa-mundo, onde todos os países estão desenhados com um contorno preto sobre o fundo branco. Todos menos a Holanda, que ocupa neste plano um tamanho insignificante. Tão insignificante que é quase heróico como realmente consegue ter uma tão larga qualidade de projectos de design e nomes importantes como Irma Boom, Droog Design, MVRDV, Rem Koolhaas, Marcel Wanders, jop van Bennekom ou Experimental Jetset. O livro explicará o resto.
A comparação com Portugal, para mim é inevitável, pois é a única que me interessa. É possível argumentar na diferença para com outras nações, por exemplo os Estados Unidos, que embora superiores em muitos aspectos, não parecem prontos a "liderar" neste; será portanto uma diferença mais grave. Mas esta noção não nos pode escudar ao conhecimento que temos dos dados e sobre eles efectuar uma análise, que provoque uma consciência em relação ao que fazemos dispondo lado a lado ambas as realidades. Não será na observação que reside a chave para o nosso desenvolvimento? É para mim lógico, que qualquer país (com a possível excepção de dois ou três) seja diminuido em relação à Holanda, mas liberta-nos isso da nossa responsabilidade e remete-nos obrigatoriamente para uma desconcertante apatia? Uma espécie de conforto português: "Deixa os outros, nós cá tratamos dos nossos..."
Querem-me convencer que nos devemos adaptar ao mercado nacional, ou seja que somos em certa medida forçados a trabalhar mediante as circunstâncias impostas por um largo grupo de indíviduos.
Em Portugal a educação visual aparece tarde nos curriculos e é remetida para um papel secundário da aprendizagem, a maioria da população vive a sua inércia pessoal, deixando os museus vazios, tal como as exposições e demais acontecimentos relacionados com a comunicação visual. Após um período de limitação imagética antes do 25 de Abril, a nossa jovem democracia tem mostrado uma fraca aposta na produção cultural e os meios mais abrangentes, sobretudo a televisão, têm conduzido ao desastre os hábitos de captação de imagens. Coincidentemente, o poder da marca e o marketing impõem estratégias ao design que o forçam a entrar numa homogeneização em vez de percorrer percursos cada vez mais distintos. O dito "mercado" que será reflexo natural deste contexto, espelha não só a desvalorização da qualidade ou de uma simples e manifesta vontade de superação, mas também dá mostras de não saber lidar com a quantidade. A larga percentagem de trabalho feito provém de opiniões não fundamentadas de clientes presunçosos, desrespeitadores e pouco inteligentes que desconhecem profundamente o propósito ou a origem desta actividade, onde por vezes são acompanhados pelos próprios profissionais que se sentam ao seu lado e acarretam ordens. E querem-me convencer que nos devemos adaptar ao mercado e produzir objectos para estas circunstâncias em vez de iniciarmos uma modificação que não só prove a nossa qualificação mas como também a nossa capacidade colectiva de auto-superação. Essa é boa...

21.11.04

A Imagem... sempre a Imagem 

Por vezes tenho a sensação que tentam passar a perna ao público. É uma desconfiança minha, não será concerteza generalizada, daquilo que tende a assumir, dependendo da posição de observação, um carácter falso ou simplesmente rídiculo.
É díficil, por vezes impossível, definir correctamente e por palavras, aquilo que uma imagem representa. Talvez pela diferença no código linguístico, pela fraca disposição para manifestarmos em verbo o que vemos ou até pelo fosso que separa as duas formas de expressão. Quando se trata de uma Imagem Institucional, a questão complica-se: quem a cria e concebe tem que a justificar perante o cliente, ou seja, a dita instituição; antes mesmo de o fazer ao restante público. Passa então a haver uma relação que classifico de puro desfazamento e causa de humor pelo mundo fora, a que existe entre designer e cliente. O designer nunca entende o que o cliente diz e o cliente nunca entende o que o designer faz. Considero que este desfazamento é tão óbvio quanto incontornável, o designer irá sempre receber a informação de uma pretensão e é comum atribuir-lhe um significado e projectar para ela uma qualquer imagem mental; por outro lado o cliente estará sempre influenciado por uma quantidade de objectos visuais que se assemelham, numa menor ou maior escala, ao que pretende. Depreendendo que cada designer tenta abordar cada projecto como sendo único, a distância entre a vontade de um e a expectativa de outro aumenta. Naturalmente, dentro das perspectivas pessoais, o processo de comunicação é vulnerável e disfarçado, o que passa por bom entendimento, não o é; e quando tal acontece, o que corresponde à maioria das situações, também ninguém se manifesta e prefere acompanhar. No fim, na conclusão e apresentação pública do projecto, acabam por se soltar chavões e lugares-comuns, frutos desse suposto entendimento, desprovidos de lógica, contexto ou base de aceitação.
Foi o que aconteceu e vamos pensar assim, com a nova imagem dos CTT. Constatam que: «os Correios mantém-se fiéis ao cavalinho, agora mais estilizado, potenciando o prestígio e dinamismo que já caracterizavam a identidade dos CTT. A energia e modernidade associados à marca, continuam presentes na cor vermelha que perdura. Símbolo e cor continuam a facilitar a identificação da empresa junto dos seus variados públicos. Com este lifting, os CTT posicionam-se no século XXI com um novo espírito e uma nova vontade.»
Portanto os CTT querem convencer o público que, apesar de não incluirem nada de novo, têem um novo espírito e uma nova vontade. O termo lifting sugere precisamente a contradição do que enunciam; para lá das conotações do termo, se não existe a adição ou substituição de um novo elemento será impossível que a Imagem com os mesmos elementos manifeste algo novo.
Mais, ao fazer uma comparação entre as duas imagens, antes e depois, noto um pormenor preocupante: falta o envelope que o cavaleiro segurava na mão. Quererá isto dizer que os Correios já não vão entregar cartas? É que fazerem um lifting à capa, percebe-se e aceita-se, mas não é suposto a Imagem de uma instituição informar sobre o que é a instituição, ou existe a presunção nos CTT que todos os conhecem e por isso tal não é necessário? A Imagem é precisamente isso, a substituição em vários locais da própria instituição, ou a identificação da mesma.
E isto é ser simpático, porque ainda fazemos um esforço em olhar e compreender, a maioria dos cidadãos e utilizadores dos CTT nem sequer deu pela renovação, o que acresce o nível de desilusão para um patamar superior. Porque se existe a criação ou transformação da Imagem dos CTT, será a pensar em quem?
Quanto dinheiro dispensou esta instituição à 37 design e à Brandia, para estes afirmarem que uma nova posição estratégica é manter tudo na mesma e apagar-se uma capa?
Vamos apenas pensar que é dificil descrever as imagens por palavras...

11.11.04

A imagem... a imagem... 

Quanto mais cedo nos habituarmos ao concreto da nossa cultura mais cedo nos deixaremos de espantar com os seus fenómenos, mais ou menos mediáticos. Talvez derive em parte desta propensão ao hábito, a indiferença ou o vazio do nosso olhar e acção sobre a aparente aleatoriedade dos acontecimentos. Não que deixe de ser incomodativo o absurdo a que está condenado o nosso futuro pelas manifestações presentes, mas porque a sensação de incapacidade se sobrepõe à melhor das reacções.
Não é que Guta Moura Guedes não seja uma boa escolha para a Administração do CCB, mas é a base em que essa mesma escolha é sustentada. Pensemos assim: numa estrutura cultural pública, onde não se conhece propriamente uma direcção, uma política consistente e demarcada, uma qualquer estratégia, não é que faça alguma diferença quem é escolhido para a administrar. Contudo, alguma franqueza por muito que destoe, só encoraja; é alguém que nada fez para lhe ser atríbuido este papel. É Directora da ExperimentaDesign - bienal de Lisboa. Facto. Mas que grande resultado é esse de convidar designers estrangeiros a vir expor e falar ao nosso país com apoios obtidos à custa de uma imagem construída do papel impresso à roupa? Ou nas palavras de Natxo Checa «Talvez não tenha currículo suficiente, além do charme. Mas, se a cultura em Portugal funciona assim (...)».
No mais grave, não me sinto particularmente incomodado com a sua nomeação. Mas será de ponderar, o que leva alguém, que supostamente se quer sério, atento, dinamizador, a escolher uma personalidade que não integra em si experiência suficiente para o cargo. Pensemos novamente de outro modo: há algum empregador (mesmo o Estado), actualmente a seleccionar candidatos sem experiência para determinados cargos? Passaria pela cabeça de algum de nós fazer o contrário? Então como se explica? E aqui reside o cerne da minha dúvida. Esta individualidade poderá fazer maravilhas, tal como desejamos que assim aconteça, mas permanece uma notória e crescente desconfiança.
Há no entanto um factor positivo concerteza, pois carregamos à muito um peso, esse da direcção e decisão na área do design ser conduzido por alguém, de certo modo estranho a ela. No CPD presidia um arquitecto pouco ligado à prática do design, neste momento um designer mas que não é formado em design, agora na Experimenta sempre tinhamos alguém que não era designer mas que se encontra inscrita no 2º ano de um curso de design. Com alguma sorte, haverá numa década ou duas, uma pessoa formada na área a designar o futuro.
Encontramos aqui um factor de agrado, bem vistas as coisas é uma "apreciadora de design" que vai administrar o CCB. Até já me sinto mais contente. Pena é que talvez não bastem as tais "mais-valias" que afirma possuir para a dinamização daquele espaço; pena é que se o «compromisso com a qualidade e a excelência» for o que temos observado na bienal, não podemos esperar muito.

9.11.04

Para a frente, a todo o gás! 

Perturba-me este momento. Sinceramente.
Em Portugal não se fala sobre design. É ponto assente, todos concordarão; porque sabemos que alguém está bem instalado e porque sabemos que quem não está, também se acomodou a tal. Não existe uma publicação, revista, jornal ou livro, verdadeiramente sério sobre o assunto. Portanto, tudo o que diga respeito à moda, à decoração ou à arquitectura não estará englobado neste conjunto. Não existe programa de televisão ou rádio verdadeiramente sério; portanto tudo o que diga respeito à arte ou à publicidade, não estará englobado neste conjunto. Não existe artigo, coluna ou reportagem verdadeiramente séria e portanto tudo o que diga respeito a aproximações de supostos sabichões ou esboços de pretensão, não estará englobado neste conjunto.
Restam os blogs.
Incomoda-me que assim seja, tanto como me incomoda quem se recusa a acreditar e aceitar a situação tal como está. Apresentem factos que o desmintam! Não argumentos, mas factos. Onde estão textos sérios escritos sobre design? Assumidamente actuais, sobre Portugal, críticos ou informativos. E excusem-se, por favor, a lugares-comuns e às confusões que possam advir das excepções mencionadas.
Contudo, mesmo os blogs têem-se mostrado incapazes, na maioria, de avançar ou sequer continuar. Houve inícios interessantes para rapidamente acabarem, infelizmente. Houve desânimos, muito esforço e poucos objectivos, blogs supostamente informativos, onde de quando a quando se tentava debater alguns assuntos mais sérios, mas onde no entanto podia participar todo e qualquer cibernauta com teclado. Existem outros de qualidade indiscutível, mas aproximando-se de uma saturação. Até Andrew Howard tentou ter um blog, o que até podia ter sido bem pensado, caso ele ou quem por ele escrevia, soubessem o que estavam a fazer.
Não deixa de haver alguma piada e ironia neste contexto. Por um lado, designers que desvalorizam a importância deste e de outros blogs, alguns que opõe uns a outros, mas nada dizem sobre a falta de iniciativa das instituições públicas ou privadas que alguma responsabilidade têm ou podem ter na área do design, no que diz respeito à presença do debate, da informação ou da discussão no quotidiano das nossas actividades. Mais graça tem a difamação a que os blogs estão expostos, pelo cinismo daqueles que apesar de tudo, teimam em regressar para ler, o que só prova a sua real necessidade de informação. E por outro lado, a perspectiva empreendedora de alguém que não tendo recursos ou sendo-lhe recusados os mesmos, decide providenciar na mesma essa regularidade, mas que considera que uma má crítica, uma deturpação ou uma indiferença sejam suficientes para aborrecimentos ou dúvidas sobre continuidade.
Era o que faltava.

23.8.04

Apologia da indistinção 

Existem n ateliers de design gráfico em Portugal, mais n agências de publicidade que também facultam esse serviço, mais n empresas com gabinetes de design incorporados, mais n designers freelancers, mais n aventureiros, que não sendo designers providenciam o serviço na mesma. Cada um deles concebe n projectos durante um ano, ao serviço de n clientes. Ora feitas as devidas contas, isto deve dar para aí uns milhares de objectos que nos chegam de um modo ou outro anualmente. De todos eles, cada um de nós consegue nomear, talvez um ou dois. Porquê?
Antes de mais compreendo que alguns possam não encontrar sentido nesta minha questão. Afinal o objecto de design serve para ser usado, momento passado o qual não interessa; ou importa exclusivamente para reciclar, ou como souvenir para alguns ou simplesmente mergulha no esquecimento. Mas o que fez então determinado objecto visual por um produto ou acontecimento? Que impacto social teve? Que vantagens económicas trouxe? Que sentido de comunicação efectuou e que nos é impossível lembrar agora?
Os designers hoje são contratados pela experiência que trazem, pelos nomes que guardam nos portfolios, pelos conhecimentos tecnológicos que armazenam, mas (quase) nunca por caracteristicas qualitativas verdadeiramente inerentes à sua profissão. Trata-se de um conflito a bem dizer. Hoje em design olha-se mais para o relógio e para o calendário do que para o trabalho em si, com sinceridade não se faz o melhor possível pelos projectos e na maioria dos casos, quem o faz até é o cliente (vamos ser francos), servindo o designer como um técnico à disposição com conhecimentos suficientes para uma finalização que se quer aprumada. Uma não compensa a outra, enfatiza-a.
Neste sentido proporciona-se uma construção de experiência profissional na mesma direcção para todos, homogeneizando qualquer propósito de distinção. Pedir um projecto ao atelier a, b ou c passa a ter igual resultado. Creio mesmo que se uma larga percentagem dos clientes fosse mais consciente em relação aos gastos que tem, deixava de trabalhar com empresas "grandes" com serviço de design gráfico, pois podia obter o mesmo resultado num local que lhe pouparia metade do orçamento. Aliás, ao pensar num serviço de design em termos comerciais, a diferença hoje faz-se exclusivamente pelo preço que se cobra (vamos lá a ser francos de novo); o serviço é semelhante na sua estrutura e pelos vistos no seu resultado.
Muitos são os que voltam de férias este mês para iniciar mais uma temporada a desperdiçar recursos em comunicações ineficazes, impróprias ou simplesmente descabidas. O problema está precisamente no facto de ser impossivel não comunicar, tornando por isso preferível, ou antes um ideal que hoje não se pode alcançar, o não fazer na vez de o fazer mal. Arrisco uma definição, ou antes uma anti-definição. Houve uma altura em que se avançou com a categorização de um suposto "bom" design, termo que ainda hoje desencaminha alguns quantos, que na sua ingenuidade pretendem atingir um qualquer patamar projectual, julgando com isso estar a subir ao cume da montanha. "Bom" design é coisa que não existe, a não ser nas histórias da "carochinha". Pelo contrário existe mau design, com a devida diferenciação; este está em todo o lado, é observável e advém sobretudo do estado em que o nosso processo de trabalho está imergido. Não é da responsabilidade exclusiva dos designers, mas acima de tudo de uma tendência para o desleixo e para a desresponsabilização.
Acautelemo-nos, pois então.

4.8.04

Útil, do Latim utile 

Tento ser alguém inquieto diariamente. Prefiro assumir uma posição consciente na minha profissão e como tal pondero constantemente sobre ela. Por vezes o pensar sobre uma determinada questão leva-me a alterar uma opinião ou a mudar um processo, outras serve exclusivamente para reforçar aquilo em que já acreditava.
Sempre me convenci de que a haver um propósito para a actuação dos designers seria a concepção de objectos nas suas variadas dimensões, que estes seriam consubstancialmente distríbuidos, adquiridos e utilizados por alguém e que estas premissas levariam a uma conclusão natural, de que os designers ao conceber esses mesmos objectos tivessem presente quem os iria utilizar.
Em termos de comunicação visual a ideia mantém-se inalterável, quando temos um projecto em mãos creio que pensamos em quem vai recebê-lo, mesmo que considere que sou o autor e que posso criar como quiser.
Relembro que a profissão de designer pertence à área dos serviços. Engana-se quem pensa que providenciamos um qualquer produto. Na sua generalidade os designers dispensam a execução final dos objectos, os quais terão que ser reproduzidos por meios industriais. Talvez se confunda quem hoje depende exclusivamente do seu computador pessoal e julga que o trabalho aí impresso é final; mas não é preciso um conhecimento profundo para deduzir o que é "arte final" e para que serve. No que importa é que o serviço que os designers prestam pressupõe alguém que o pediu e recebe.
Ao ver televisão apercebi-me do limbo pelo qual alguns colegas passam. Na 2: transmitiam o PopUp que incluía uma reportagem sobre design gráfico e sobre uma exposição na Fabrica Features. De referir que neste programa espera-se que se apresente, esclareça e divulgue um qualquer projecto.
Depositava grandes esperanças neste, que poderia aqui confirmar as minhas opiniões sobre o objectivo do design, que este projecto se preocuparia com alguém, com o "público-alvo" ou "target" (nomes tão queridos do ensino e da gíria projectual), que mesmo sendo para divulgação de nomes do design gráfico em Portugal, estes poderiam apresentar exemplos do seu trabalho e portanto, objectos de design.
Não.
E espante-se ou não o discurso verbal segue os condimentos do discurso visual, nas palavras de António José Seguro ao referir-se ao programa de Governo proposto por Santana Lopes, «um conjunto de banalidades», «um flop». Grave quando se afirma ser uma montra de novas tendências; já se tinha depreendido isso das imagens, mas era justo colocar a dúvida de nos escapar alguma coisa... mas não, de facto não escapou.
O design nasceu e cresceu como actividade devido a um simples facto: é útil. Se ainda existe, sobrevive e podemos argumentar a sua importância é porque é necessário a alguém, de preferência alguém que não exclusivamente o próprio designer, pois desvinculado de qualquer preocupação social, objectiva e de reprodução, afastado de um pensamento sobre o índividuo e a vida em conjunto, não haveria razão ou justificação para existir e seria um empecilho, pois outras actividades já ocupam essas mesmas funções.
Não nos deixemos por isso enganar, quando se vende em S. Pedro de Alcantâra, imagens que ostentam a expressão de Design Gráfico mas cuja única utilidade é pendurar em casa na parede, não estamos a falar de Design Gráfico; isto deve-se à confusão que alguém anda a espalhar. E vozes de burro não chegam ao céu...

27.7.04

Repto ao sr. Cayatte 

Sugeriram-me que escrevesse sobre o Centro Português de Design (CPD), sobre Henrique Cayatte e sobre o facto de este vir a presidir o mesmo CPD. Respondi que era díficil falar sobre o CPD, dada a presente situação e que sobre o designer já tinha elaborado um texto a que dei o título Foi um prazer fazer negócio consigo, muito embora acredite que poucos o tenham compreendido.
Entendo que a ansiedade seja enorme. A discussão entre os designers atinge níveis gradualmente perturbantes e inclusivé desrespeitosos na Internet. Poucos são prestigiados, mais que muitos não são; as oportunidades são poucas, muitos designers experienciam o desemprego ou a forçosa transferência para áreas onde não são especializados; apenas se ouve falar em design de 2 em 2 anos quando o jet-set decide tomar uns copos nos locais fashion de Lisboa (isto a continuar seria demasiado prolongado...). O contexto em que Henrique Cayatte assume a presidência do CPD não é fácil. Mas sobre esta relação nada se poderá dizer agora; quando um tempo significativo passar e houver um corpo de trabalho sobre o qual formular um comentário, aí será possível analisar este acontecimento.
Apraz-me por isso prolongar as anotações anteriores sobre a presença do designer Henrique Cayatte no panorama nacional. Falar sobre ele é aliás irremediável, mesmo neste blog.
No último texto referia-o entrelinhas como sendo a pesonificação de uma marca, comerciável e negociável, de prestação de serviços. Mas suprimindo as observações redundantes creio existir um percurso ponderado e extremamente objectivo.
A presença em determinados momentos/objectos estratégicos colocaram-no num nível de determinado misticismo; a sua envolvência cultural favoreceu-o em parcerias e conhecimentos que sublinham hoje a sua importância como sendo um designer (o único?) a ter peso de discurso e/ou decisão fora do próprio âmbito do design. Esta posição deve-se mais ao discurso verbal (qual Pedro Cabrita Reis) que a qualquer projecto gráfico ou visual, dos quais a maioria não retirará nenhuma posição intelectual, social ou política. Que outro modo se poderia considerar a tamanha importância de alguém cujo trabalho acaba por ser o mais convencional de todos? Os seus trabalhos são aliás atravessados por uma perversa neutralidade que nos encanta, razão de uma invisibilidade da sua presença, que nada de novo proporciona e que até enfastia o mais atento dos colegas de profissão. Mas estes projectos não são realizados para os colegas mas sim para uma comunidade que (ainda, esperemos) não entende o verdadeiro propósito da profissão de designer. Ele conhece-a e descobriu-a do modo mais sério e mágico possível.
Tal como acontece com Bruce Mau, Cayatte é um óptimo designer, inteligente, mas não consegue ser apontado como notável ou impressionante, a não ser pelos seus clientes, que numa visão mais estreita da disciplina do projecto e o que ela pode fazer, se deixam convencer.
Cayatte é falado, invejado, entrevistado, escutado, lido. É possível pensarmos que este posicionamento individual seja absolutamente acidental, mas não parece provável. Na minha opinião é calculado e seria insultuoso pensarmos que não.
Este o seu grande feito: a obtenção de poder. Poder de argumentação, persuasão, influência, sobre os colegas, sobre os amigos, sobre os alunos, sobre os clientes.
Resta saber se agora, na presidência do CPD vai partilhar isso connosco.

22.7.04

Style = Fart 

Andamos todos atarefados com a criatividade. Precisamos de criar uma brochura para um cliente, precisamos de criar um logotipo para outro, criamos ilustrações e fotografias nos tempos livres e ainda pretendemos criar qualquer coisa, que não sabemos muito bem o que é, mas que temos eventualmente de criar.
Estamos de tal modo concentrados nesta imposição que nos parece garantido que somos de facto criativos; aliás, nós somos os "criativos". A tal ponto que nos concedemos o luxo (há quem lhe chame desígnio) de criar por criar, o que por sua vez significa, fazer por fazer. Esta criatividade assim preconizada, na era informática, é rápida, limpa, bonita, mas corre muitas vezes o risco de se tornar, também rapidamente, oca, banal, inútil e desprovida de objectivo. Para onde vai tanta criatividade? Porque desaparece ela? E porque foi iniciada segundo essa mesma condição?
O que falta relembrar aos designers é que a criatividade não é apanágio da nossa profissão, mas sim uma possibilidade utilizada e ao alcance de todos. Bastaria, segundo os termos do "criar por criar", observar quem hoje em dia pratica (ou julga praticar - uma outra questão) design para poder concluir isto mesmo. Mas não me refiro a isso. É à utilização corrente, diária e sistemática da criatividade (a real) em tudo o que é actividade humana. Curioso verificar que em nenhuma outra área se cria "por criar", mas inclui-se sim a noção numa prática de modo a favorece-la.
Não são poucos os designers que, em todo o mundo, consideram que criar é obter um nível gráfico individual suficiente, a partir do qual se impõem e se expressam, vulgarmente designado por "estilo". Tantas horas a trabalhar para descobrir um toque exclusivo, intransmíssivel, numa aproximação ao genial; tudo para que finalmente o mundo saiba quem é e como trabalha. Os objectos são agora projectados na medida em que têm a dádiva da sua criação e são reconhecidos por isso. Toda essa criação tem como objectivo atingir uma identificação pessoal, a conquista de uma "assinatura" ou "carimbo" e que permite-nos reconhecer o designer de determinado projecto.
Apela-me referir como exemplo o cartaz de Stefan Sagmeister para a Cranbrook Academy of Art e para a AIGA Detroit de 1999, onde no seu próprio corpo infligia no abdómen a frase «Style = Fart», que em português se torna «Estilo = Peido»; curiosamente os anglo-saxónicos têm um outro significado para a palavra fart: «stop wasting time not doing very much», o que para esta discussão me parece indiferente.
O que julgo ser de salientar é que anda muita gente a utilizar a mensagem do cliente para fazer passar a sua própria urgência de comunicação e que apesar de se convencer que trabalha, que cria, que é original, não tem andado afinal a fazer grande coisa.

12.7.04

Exmo. Sr. Professor 

Catedrático, associado, auxiliar, com ou sem agregação, adjunto, assistente, equiparado ou não, a si me dirijo na convicção de que V. Ex.ª tomará por certo a atenção devida e que julgo ser necessária para o tema que humildemente exponho. Sabe V. Ex.ª que o Ensino Superior é a garantia fundamental da educação nacional; sem diferenciar entre Público e Privado ou entre Universitário e Politécnico, nele reside a esperança de um país, dele depende o desenvolvimento nos mais diversos níveis da sociedade portuguesa. Sabe também V. Ex.ª que é necessário e até indispensável dotá-lo das mais completas e seguras características possíveis.
Decerto reconhecerá V. Ex.ª que para cumprir tais objectivos e porque é de ensino que falamos, é incontornável escolher os melhores professores, ou seja, dos candidatos à disposição, preferir os que melhor prestação poderão dar. Baseando esta escolha na posição actual que ocupam, na compreensão académica e na posse de experiência comprovada.
Em Design o terreno é escorregadio, compreendemos. O que se ensina em Design? Uma teoria e uma prática - certo -, mas o que não podemos duvidar é que acima de tudo o design é uma realidade e que para transmitir um domínio e um conhecimento dessa mesma realidade torna-se fundamental a experiência.
Detesto, em certas ocasiões, pôr o dedo na ferida. Sobretudo nesta, pelo melindroso que é tão somente referi-la enquanto problema, em especial se tivermos consciência que a maior parte deste assunto se passa num plano de secretismo, afastado do conhecimento de um leque minimamente alargado. As decisões de contratação de docentes para o Ensino Superior são tomadas não se sabe muito bem por quem; mesmo quando temos a informação do júri, desconhecemos por completo que pressões existem, quem realmente escolhe, quem classifica, quem propõe, por que razões.
Tendenciosamente têm-se escolhido aqueles que como proposta, pretendem vir a ser (conhecedores, capazes, informados, críticos, activos) mais do que serem-no já. Os níveis de eficiência devem à partida ser antecipados pelo grau de conhecimento e experiência que cada um tem. Se vamos contratar alguém para dar aulas, que para além de nenhuma ou pouca experiência na matéria nem sequer tem prática na profissão, para quê contratar de todo? É o que tem acontecido um pouco por toda a parte, foi o Sr. Dias na FAUTL, a Srª. Vieira da Silva e a Srª. Rodrigues na FBAUL, o Sr. Brandão na ARCO, o Sr. Baptista na ESAD/IPL, uns quantos no IADE e o Sr. Ferreira na ESTAL. A lista até continuava...
Em concursos públicos até já há uma preferência por alguém com experiência em docência, como que esta qualidade fosse requisito sine qua non para provar a necessária competência para o cargo. Em certos locais metade do pessoal docente nunca tinha sido professor; a maior parte, o que é pior, nem nunca foi designer, apenas estudou; esta não é a volta a dar ao problema.
Os cursos não estão a ter o efeito desejado ou desejável, a formação final não é a esperada e muito menos a exigida. Os alunos mais atentos e preparados estão descontentes, manifestam-se aqui e ali contra uma prática de ensino estática, relaxada, despreocupada. Não são raros os casos em que os próprios alunos têm um nível de informação e conhecimento (já para não falar na prática) superior a uma grande parte de assistentes, estagiários ou não.
Exmo. Professor, queremos acreditar que não leva uma vida boémia e que anda a tentar resolver estas questões quando não está nas aulas, mas torna-se difícil.

5.7.04

Duas frases, duas perguntas 

Não é apetência comum em mim elogiar trabalhos de publicidade. Aliás, basta-me lembrar os atropelos e infracções às regras de trabalho para rapidamente desdenhar deste universo. Mas quando o exemplo serve os meus propósitos, é díficil recusar tamanha proposta.
O último anúncio da Optimus (e que mais publicidade se tem visto em Portugal nos últimos anos, senão de operadores de telemóveis?) apresenta-nos uma situação com a qual é impossível não simpatizar. O filme é bem conseguido e transmite precisamente o que as mentes do marketing e da comunicação pretendiam: o poder da nova geração. Já antes a TMN tinha lançado na campanha I9, uma mostra das vantagens, situações, possibilidades, desta nova tecnologia. Porque é disso que se trata, esta é uma nova tecnologia, repleta de potencialidades. Mas não se torna vísivel nas campanhas destes operadores qualquer referência a essa mesma tecnologia. Julgo que não só porque seria complicado demonstrar, como também não interessa verdadeiramente ao público. O que este pretende saber, hoje, são as vantagens, as diferenças, as novidades e o impacto que o produto terá nele. Nada melhor para demonstrá-lo do que aludir às suas emoções, alternando com uma subtil exposição das suas potencialidades. No fundo, quem comunica não pretende exibir a sua tecnologia, elucidar ou vanglorizar sobre ela. Essa fase da comunicação já passou.
Portugal necessita de comunicadores, com objectivos, com intenções, alguma clarividência e de preferência com um conjunto de conhecimentos que os tornem capazes, não só de preencher o mercado nacional, como de sobre ele proporcionarem uma qualidade que nos aproxime do melhor que se vai fazendo em termos internacionais.
Há por aí muito atelier a iniciar uma prestação de serviços em design, a maioria dos quais não sabe comunicar o seu propósito, menos comunicar ao cliente a evidência dos seus serviços e a possibilidade dos projectos.
A capacidade de conhecimentos é, para mim, um género de súmula da nossa experiência. Aprende-se com vários exemplos e que não sejam apenas os nossos erros a servirem-nos de lição, mas o que se testemunha é a incursão dos eventos passados sobre o nosso presente, de modo indissociável.
Muitos são os locais que empregam designers com a convicção de que os vão formar finalmente, numa espécie de escárnio em relação à Escola onde o indivíduo se formou. Talvez não seja óbvio, mas para aprender vai-se à escola, para trabalhar vai-se para o emprego. Que a experiência e o conhecimento aumentem, nota-se; mas considerar agências ou ateliers em Portugal uma "escola" é desprovido de razão. Por muito será o local para onde se vai quando se falta a essa mesma "escola".
Mas dada a falta de verdadeiros comunicadores e das explicações empíricas para quê NASCEr DE NOVO? Para quê FAZer UM CURSO NA ETIC?

28.6.04

Foi um negócio fazer prazer consigo 

Há questões de uma subtileza insuperável.
Nada é hoje mais importante que o branding. Com isto refiro-me à criação, produção e gestão de uma imagem, compreendida na sua totalidade, de uma determinada entidade. Avanço desde já com a minha disponibilidade em aceitar outras designações ou termos que dentro da língua portuguesa ofereçam melhor adequação ao significado. Mas creio que nenhuma outra poderá definir melhor a amplitude e a estruturação do branding. Devido à sua importância e complexidade não depende exclusivamente do designer, embora este seja um elemento determinante no processo. O branding assim entendido incluirá o marketing, as relações públicas, serviços vários, política de vendas, design e uma lista que será maior conforme a dimensão do "nome" a que nos referirmos.
O processo inclui a concepção de uma Identidade Visual, que invariavelmente terá como base um simbolo e/ou logotipo, de onde se desenvolverá um programa visual (aviso aos desatentos e menos concentrados que não se trata de software) mais vasto e completo e que servirá como matriz que suporte toda a necessidade a existir por parte da entidade. Para que tal resulte torna-se necessário compreender todo o processo, conhecer a entidade e como esta se apresentará. O branding torna-se familiar ao designer.
No contexto português refere-se abundantemente o fenómeno como marca, (sendo talvez esta a melhor alternativa) e o destino desta palavra é singular. Assume-se como um apelo à memória do potencial cliente/consumidor/utilizador, como uma presença incontornável no universo visual (e não só) daqui para a frente. Com esta presença as pessoas vivem, habituam-se, não encontrando inconvenientes e serão inclusivé responsáveis (muitas vezes sem notarem) pelo seu desenvolvimento, pelo seu sucesso ou insucesso.
Os individuos são como marcas quando querem, quando fazem por isso ou quando alguém se lembra de tal por eles. Actualmente basta observar a presença constante de Luís Figo no nosso quotidiano e na quantidade de produtos que a ele surgem associados, numa clara alusão e aproveitamento da figura pública que é.
Há designers que são assim. Figuras que se projectam para lá da profissão e que criam uma aura à sua volta. Tornam-se eles próprios marcas, brands, palavras a memorizar em determinados círculos, incutindo uma continuidade e associação no desempenho que regularmente têm. Como qualquer marca, são cotadas, vendem-se, comercializam-se. Negoceiam-se a preços sempre razoáveis, pois na diferença que se pode constatar na área do design, é que a divisão terá que ser feita entre marcas e "não-marcas", esses seres desconhecidos, que por serem tantos passaram a anónimos.
O designer feito marca é também uma questão de segurança, de valor e acredite-se, de esclarecimento. Uma posição possível pela perspicácia e pelo conhecimento. Ou simplesmente pela experiência do próprio designer; afinal basta compreender o seu trabalho. Se ajuda outras entidades na construção e consolidação da sua imagem e no valor da mesma, porque não fazer o mesmo para si? Inteligente e subtil...

23.6.04

Fé: falta e excesso 

Todo o acto de criação pressupõe a existência de um criador.
É vulgar os designers pensarem num projecto sem assumirem as devidas responsabildades. Consideram que inequivocamente é-lhes entregue uma mensagem, a qual deverão trabalhar e prestar fidelidade. Resta admitir que o seu próprio trabalho é em si, igualmente, uma mensagem.
Para Paul Rand «Art is primarily a question of form, not of content». A discussão muito processada nos media britânicos (imprensa especializada) para mim perde algum do seu sentido, na medida em que a forma (ou a materialização) de uma mensagem fará parte do conteúdo, ou antes, será também conteúdo. Seja um símbolo, o layout de uma página, um cartaz, terá um criador. Os estudos de semiologia apresentados por Barthes e a sua decomposição das mensagens publicitárias não criam aliás distinção entre os parâmetros que os próprios designers e alguns críticos equacionam.
Nesta observação, julgo que a história está do meu lado. A principal oposição ao International Style na tipografia e no desenho de páginas era precisamente a presença de um discurso demasiado neutro ou com aspirações a tal. Ao qual Wolfgang Weingart soube responder com a inclusão de motivos e experimentações subjectivas e que pressionavam o assumir de uma diversidade através da denotação do próprio autor. Aqui é ultrapassado o «You cannot not communicate» de Tibor Kalman; sendo que este é certo, é então necessário encontrar a comunicação mais adequada a uma determinada mensagem ou necessidade de comunicação. Se quisermos, um equivalente visual ao "texto" ou ideia ou pensamento e que portanto não deixará de ser uma mensagem em si. Não é aliás uma afirmação que deva surpreender os mais atentos. Bastará ir a uma exposição e concluir que um qualquer quadro ou escultura é uma comunicação por si.
O que me provoca consternação é o termo "design de autor". Pelo que me apercebo, todo o projecto de design tem um autor. Mais uma vez, creio, caimos numa confusão de designações que não sabemos esclarecer com lucidez. Parece-me que o termo visa apenas e meramente o estilo com que um determinado autor, neste caso designer, se exprime ou presenteia o objecto do seu trabalho. É nesse aspecto uma ferramenta de marketing, uma ilusão, um fenómeno de vendas.
Pior é testemunhar a pretensão de alguns a esta posição semi-elitista e semi-parola. Em Por outro lado, Jorge Silva admitia ter chegado a um nível em que era reconhecido um projecto seu; ou seja, através da observação de um determinado periódico ou revista do qual é director de arte, era fácil concluir que seria ele o autor. Não podia estar mais errado. E ainda bem. Tem feito muito e de boa qualidade, mas daí a reconhecer-se elementos, composições, formas, presenças que sejam assumidamente dele, estará algo longe ainda. Justificava-se com o facto de julgar intervir nos objectos tentando dar-lhes um valor acrescentado. Pois bem, mas se não é isso que todo o designer tenta, então será o quê? Tal característica nunca foi suficiente para distinguir seja quem for.
Mais de resto prefiro a importância dada ao projecto do que ao autor. Melhor para nós, pior para ele.

7.6.04

Quando não sabes o que quer dizer, vai ao Dicionário! 

Como isso normalmente não se faz, facilito então o trabalho: no Dicionário de Língua Portuguesa não está presente o termo design. Não me surpreende, já que se trata de uma palavra com origem anglo-saxónica. Mas numa breve passagem pelo Dictionary of Contemporary English é possível retirar dois pequenos significados, que transcrevo agora:
«design 1. to make a drawing or plan of something that will be made or built; 2. to plan or develop something for a specific purpose.»
Não é uma definição extensa e até prefiro assim, sabendo que o termo é vasto no seu significado e que temos diversos problemas em adaptá-lo à prática e em última análise, inclusivé na teoria. Mas considero, ou pelo menos tenho esse desejo, que quem pratica a actividade tem um ligeiro (não peço muito) conhecimento do termo e do seu significado e que por isso não seja difícil empregá-lo. O facto de ser vasto não lhe retira a origem nem a possibilidade de se renovar. É-me indiferente se acreditam no Gropius ou no Maldonado, no Papanek ou no Munari, no Maeda ou no Bruce Mau. Torna-se necessário é admitir que o que fazemos tem um propósito e uma utilidade.
Ora eu tinha uma ideia mais ou menos bem preparada sobre a qual ia escrever, pensava nela há dias, mas lá fiquei a saber da inauguração da MusaTour na Fábrica Features. Tendo consciência do significado que acabei de transcrever e não tendo encontrado aspectos do mesmo nesta exposição, fui procurar um que melhor se ajustasse.
Então no Dicionário de Língua Portuguesa está presente o seguinte:
«ilustrar decorar com desenhos; instruir; esclarecer por meio de comentários, de exemplos.»
Ou no de Inglês:
«illustration 1. a picture in a book, article, etc, especially one that helps you to understand it; 2. a story, event, action, etc, that shows the truth or existence of something very clearly.»
Nutro o maior dos respeitos pela ilustração, quando esta se apresenta com qualidade e cumpre aquilo que julgo ser proveitoso e lógico no seu papel, o de comunicar algo que não se apresenta directamente no texto, ou seja, que por mim bem pode ser não-descritiva, ou até não acompanhar texto algum, mas sim uma ideia, conceito ou provocação. Desta perspectiva a exposição que comento pode ter "aspirações a...", mas nunca a um objecto de design.
O que se pode assistir no Chiado é uma demonstração de virtuosismo visual sem qualquer finalidade projectual. O trabalho assim considerado não tem como objectivo solucionar um problema, mas sim compor um outro. Não um problema no mau sentido, mas na medida em que se torna, tal como uma pintura ou escultura, indecifrável; de acesso cada vez mais restrito em termos de informação.
Que o design necessite de transformação, de encontrar novos caminhos, de aceitar novas linguagens, estou perfeitamente de acordo, mas que objectivo é esse de o orientar para lugares que já existem?
Que 15 designers portugueses tenham decidido pintar com o computador, ainda se aceita; agora que se pretende «elevar e divulgar o design em Portugal», é conversa de engenheiros, advogados, ou outra profissão qualquer, mas não de designers.
Portanto, ou se substitui os termos, ou se substitui os trabalhos.

27.5.04

Outros costumes... 

Recentemente o Icograda lançou os resultados de mais uma "sondagem"/opinião realizada. O tema referia-se aos diversos modos em que os designers praticam a profissão e a pergunta era qualquer coisa como: «Are you a freelancer, a corporate employee or part of a design team?».
Habituado que estou a Portugal e em seguir o dia-a-dia de um país que embora pertencendo a uma União, vai-se fechando à medida que esta se expande, pensei que o resultado não me fosse surpreender. E eis que estava errado.
Dos que contribuiram para esta amostra, 44% afirmam trabalhar como freelancers, 32% fazem parte de uma equipa de design e 27% estão empregados num local que não é empresa de design.
O meu espanto diz sobretudo respeito à elevada percentagem de freelancers, ou antes, que esta seja a maioria. É lógico que poderão dizer que a maioria respondeu freelancer porque foram os que tiveram tempo para lá ir votar, os restantes trabalham mais; ou simplesmente, que nem todos conhecem o organismo, a sua importância e dispensam a visita. Mas considero que ainda assim é digno de registo ou pelo menos de comparação.
Em Portugal o designer freelancer é olhado com desconfiança ou então é desprezado, à excepção de uns poucos, que a muito trabalho ganharam o seu próprio estatuto. O regime de trabalho é pouco seguro, grande parte das vezes não há contrato, não existe uma segurança que derive da dependência económica mensal e fixa. O local de trabalho será maioritariamente o da habitação. Desvantagens importantes.
Suponho que a questão se possa dividir em duas partes: o regime de freelancer em ateliers ou agências de design e fora delas.
Em ateliers ou agências, os responsáveis preferem pessoas a trabalhar no local. Pagam-lhes pouco ou menos e controlam todos os gestos criativos. Têm ali "serventes" que não pensam, executam. O freelancer sai sempre mais caro e não é controlável.
Fora das agências, os clientes desconhecem-no pois o esforço de promoção é bastante reduzido, o que acaba por levar os potenciais clientes a optarem por agências, às quais vão ter de pagar bastante mais por projecto. Tanto num caso como noutro, é o freelancer que sai prejudicado, o que não dá boas indicações de prosseguir uma actividade deste modo.
Contudo para balançar não será possível encontrar nada mais refrescante no mercado do que alguns projectos desenvolvidos por freelancers, o que naturalmente advém de um afastamento das tendências sedentárias das agências, de uma recolha de informação criteriosa e de um processo de trabalho mais prolongado ou mais preocupado em subverter a metodologia projectual. Vantagens importantíssimas!
De repente lembro-me que o Paul Rand, o Peter Saville, o Neville Brody e o David Carson demarcaram-se através de um percurso algo solitário e só mais tarde criando um gabinete com mais pessoas, no caso dos três últimos. Em Portugal resta a esperança de o fenómeno ser copiado, ou que as tarifas de avião comecem a baixar...

21.5.04

Pois, pois... 

Tenho por hábito brincar com a política, pelo menos no que diz respeito à comunicação que empreende. Torna-se por isso natural tecer piadas sobre os rostos dos líderes e candidatos, pois nada mais se vê de um partido ou força política. As mensagens são fracas na sua propensão ao universal e os cartazes, a funcionar, dependem largamente de outros meios, sobretudo da televisão. Esta abordagem não rentabiliza muitas opções e torna-se uma fórmula difícil de contornar. A um rosto segue-se outro e imagine-se que a pessoa em questão não obtém simpatia por parte do público, ou simplesmente não é mediática...
Recentemente piorou.
Frente a um duplo problema, as duas forças políticas mais relevantes tiveram que puxar pela habilidade e agilidade publicitária e visual. Trata-se das eleições europeias, caso complicado já se sabe; mas acima de tudo a escolha dos cabeças de lista, Sousa Franco pelo PS (que não é a personalidade mais apetecível para colocar num cartaz) e Deus Pinheiro pela coligação Força Portugal (escolhido tarde e a más horas, o que também impossibilitou-o de aparecer em cartazes). Face a isto, o PS foi o primeiro a apostar numa estratégia para as eleições, que se consubstanciou na metáfora do cartão amarelo, de imediato seguida pela "resposta" da coligação, imagine-se, um cartão vermelho.
Além da fraca sugestão, urge indagar o que compreende então o comum português destas mensagens. Antes de mais nada, que alguém quer admoestar o Governo em exercício de funções e que os partidos que o apoiam ainda se escondem no passado para se defenderem. Preocupante é que em lado algum se faz referência a umas eleições que estão demasiado próximas, de temas que nunca foram abordados em tempos recentes. Por aqui observa-se a verdadeira consternação da classe política com o fenómeno da abstenção. Também se compreende que eleger deputados para o Parlamento Europeu não é motivo de trabalho. Em bom dizer, sabe-se das "folgas" e "flexibilidades" da função, mas numa estatística recente a maior parte da população portuguesa não conhecia os cabeça de lista de cada partido. Digam que é sobretudo nas ideias que apostam, muito bem, mas se nem sinal delas...
O Dr. Mário Soares comentava há poucas semanas que a renovação democrática é positiva, atendendo ao agrado de ver um partido suceder a outro na chefia do Estado. Mas para que tal aconteça é necessário providenciar alternativas e dá-las a conhecer com antecedência. Ora o que neste caso acontece é que nada se conhece. Por muito podemos falar numa não-comunicação assente no pressuposto necessário da distinção. Regra básica do marketing é a diferenciação, se existe a pretensão de criar escolhas, as mesmas devem ser comunicadas dentro de uma lógica de afastamento das restantes, ou seja pela diferença criamos a nossa identidade e o nosso lugar. Isso não acontece com cartões, escrevam o que quiserem por baixo, deêm-lhe a cor que vos apetecer.

18.5.04

E se pedirmos por favor? 

Acredite-se ou não, as "Festas vêm aí...", outra vez!
Esta exclamação porque quem tem acompanhado o período das Festas de Lisboa tem também verificado que em todos os anos altera-se a comunicação e divulgação das mesmas. Terei que admitir que defendo um valor de continuidade, ou no mínimo uma presença visual que aponte para uma identificação, ou da cidade ou do evento. Mas de todas as campanhas, de todas as ideias, de todas as estratégias, alguém (na Egeac?) escolheu a menos feliz de todas.
O ano passado foi apresentada uma imagem que divulgou o evento, tratava-se de uma sardinha isolada num mupi quando tinhamos sorte, ou uma quantidade delas que "voava" pela cidade de cartaz em cartaz, para nosso azar. Pois é esta que parece ser a comunicação deste ano. Pelo menos é o que dá para perceber pelos postais que já circulam pela capital.
Ora eu quer-me parecer que será objectivo das entidades ligadas ao evento trazerem o maior número de pessoas possível, não só residentes mas sobretudo habitantes da periferia, turistas, quem sabe aproveitar o ambiente gerado pelo Euro 2004 e que fará permanecer cá tanta gente. Deduzo eu, até poderei estar a ser ingénuo, que faria sentido comunicar esse sentimento de "festa", o que talvez não se coadune com ver uma sardinha meio-morta (não interessa de quantas cores a pintam). Outra coisa será que esses mesmos responsáveis talvez quisessem que todos entendessem que essas mesmas Festas se passam de facto em Lisboa. Eu, quando me falam de galos, lembro-me de Barcelos; quando me falam de sardinhas, lembro-me de Setúbal. Creio que até nem há estatísticas sobre as Festas, era possível descobrir que até se come mais entremeada... mas isso também não deve interessar.
Incomoda-me que na comunicação não exista uma ligação aos verdadeiros factores que movem e que inclusivé, lhe dão nome. O exemplo que me parece mais óbvio será o das Marchas. Que um acontecimento como este até nem precise de muita divulgação, dado o seu conhecimento, tradicionalismo, etc, aceita-se. Mas julgar que por isso não é necessário renovar a celebração e fazer todos acompanhá-la, soa-me a leviano.
Não sei quem concebeu a campanha de 2003, mas este ano o postal já vem assinado "Silva!Designers". Conhecidos que são os trabalhos que o Jorge Silva tem tido nos últimos anos, dá vontade de perguntar: Não se arranjava nada melhor?

10.5.04

Será assim tão descabido? 

O Festival de Publicidade e Design do Clube de Criativos de Portugal é conflituoso.
Isto não é o mesmo que dizer que não o defendo. Julgo que de algum modo é útil, mas confesso não ser apologista de "misturas", pelo menos aqui. Prossigam, mas porque não chamar-lhe apenas Festival de Publicidade? Que seja criado outro e aí seja dada atenção exclusiva ao design. Não será isto razoável, o promover a actividade e os esforços que anualmente os designers nacionais dedicam à economia portuguesa? Se o Clube dos Criativos (isto é preciso conter-me, saia já alguma coisa daqui) não distingue entre uma e outro (entenda-se Publicidade e Design), há quem o faça e bem; dirão que a distinção é difícil. Concerteza. As Finanças e a Economia também estão muito relacionadas, mas não vão para o mesmo Ministério (perdoem-me a analogia política).
E em que me baseio para comentar?
Diferentes actividades com diferentes formações não se distinguem na prática, não favorecendo consequentemente os interesses dos potenciais clientes. As agências de publicidade vendem já o "pacote" completo, servindo muitas vezes alhos em vez de bugalhos. Mesmo os gabinetes de design estruturam-se já como se de uma agência se tratasse, não porque tenha de ser, mas porque é o modelo que conhecem e com o qual se conformaram. Diogo Anahory escrevia no Anuário do 5º Festival o seu espanto pela rapidez com que o júri se tinha despachado. Eu diria que não me espanta nada. A maior parte dos membros já trabalhou em tudo o que é agência em Portugal; se isto não conduz o meio a uma homogeneização, então o que é que poderia?
E sobretudo custa-me ver as edições anuais deste Festival, onde para variar os trabalhos premiados na área de design estão reservados para último. Se formos atentos, este Clube até já faz o que aqui proponho, a primeira parte do livro tem anúncios, a segunda os objectos impressos.
Haverá falta de meios para dois festivais anuais?

23.4.04

Os meninos bonitos II 

E eis que chegamos a um ponto de reflexão obrigatória. Para mim há dois lados de uma mesma história que têm de ser ponderados.
Alguns dos recentes sites nacionais e que escapam à tendência do portfolio individual arriscam um percurso, um caminho, na maior parte das vezes incerto, indeciso ou indefenido. Nomes como dsgnplug, musabook, youneedtogetoutmore, ruadebaixo, scene360 ou camouflage apresentam-se ideologicamente secos, sem novidades (a não ser do universo informativo, o que alguns conseguem e bem). Todos recorrem aos mesmos artifícios e eventos para envolver uma certa "comunidade". São visualmente bem conseguidos, não restam dúvidas que detêm virtuosismos, mas estará o design - e não esquecer que há, ou deve haver alguma coisa de design, para esta palavra estar sempre a ser referida em tais sites - condenado ao estilo, a uma mera, ocasional e passageira tendência? É que mesmo este conjunto se pauta maioritariamente por um sampling monótono e ele próprio a cair em desuso. O meio foi bem escolhido, mas caminha-se para um beco sem saída. É urgente reflectir sobre esta presença no universo visual.
Por outro lado, na comparação entre estes trabalhos e uma observação do mercado não se descobrem muitas coincidências ou semelhanças. É pena! Por muito que tenha dito, tal seria preferível ao pânorama actual no circuito "comercial".
É aliás sintoma de uma vontade de mudança, para os quais, responsáveis por agências e ateliers deviam-se sensibilizar. Ora se os seus próprios colegas e funcionários, embarcam nestes projectos, muitas das vezes, fora das horas de trabalho, não só é porque acreditam, como empreendem o esforço numa espécie de exorcização das desilusões que os mesmos encontram nos respectivos empregos. Sendo que o resultado não é bom, verdade é, que é melhor do que na direcção da maioria dos actuais responsáveis. Não que haja uma plena ou total responsabilização a imputar-lhes, mas formas hão-de ser encontradas para provocar alterações junto dos clientes.

19.4.04

Omissões 

Ontem saiu no Público a lista dos seleccionados no concurso Jovens Criadores. Não conheço os projectos e consequentemente não me irei pronunciar sobre a sua selecção. Existe contudo uma ou outra questão a que dediquei a minha atenção (tenho acompanhado as Mostras e os catálogos sobretudo) e que aqui coloco sob a forma de apontamento.
Começo pela que julgo ser mais consensual e de alguma importância, este concurso tem feito um esforço por se apresentar em diversos locais do país, numa clara opção de descentralização e de enriquecimento da presença criadora em zonas não conhecidas por isso. Parabéns por tal facto!
Mas o que mais incomoda são os 3 aspectos que envolvem o júri. A saber:
1. A criação devia, parece-me, renovar-se. A certas ideias seguem-se outras, a processos de trabalho seguem-se outros, tal como a resultados deverão igualmente seguir-se outros, de preferência diferentes, distantes ou próximos, mas que testemunhem um desenvolvimento, uma orgânica. Ora o júri dos Jovens Criadores, ao longo de vários anos, discorda. Têm uma tendência para preferir o que já conhece. Por exemplo, o júri de Design Gráfico entende esta actividade de uma única e inequívoca maneira. Design Gráfico é "isto" e nunca poderá ser "isso". E deste nível de compreensão quantas promessas perdemos? O que eles não conhecem, não gostam; não gostando, desprezam.
2. Nunca é anunciado com a devida antecedência. Quem vai pagar 7 ou 8 Euros de inscrição por projecto devia ter direito a conhecer o júri que o vai avaliar, para saber se quer submeter-se a esse juízo ou não. É corrente nas áreas da criação haver discordância e julgo que é bastante razoável e aceitável, mas para quê concorrer a algo que à partida não se pode ganhar, para quê submeter-se a um julgamento para o qual não existe defesa? Talvez o Clube Português de Artes e Ideias não angariasse tanto dinheiro, afinal parece que têm sido cerca de 1000 concorrentes por ano, mas não traria alguma justiça ou direito de opção?
3. A própria escolha do júri. Ângela Ferreira em Artes Plásticas? A senhora não dá aulas porque não sabe como avaliar os outros e vai ser elemento de júri? Rita Filipe em Design Gráfico? Quem desenha candeeiros não devia estar noutra área? Daniel Lima em Ilustração? Um júri que trabalha nesta área há tanto tempo como os concorrentes? Em Design de Equipamento serão sempre os clones, porque ter Miguel Viera Baptista ou José Viana ou Marco Sousa Santos ou Paulo Parra ou Filipe Alarcão, é exactamente a mesma coisa. Não vamos sequer falar da Patricia Gouveia (Ciber Arte)...
E isto só este ano, muito foi o que ficou por dizer em anos passados.

P.S. - O anúncio que figura na página de o Público não menciona em que cidade vai ser apresentada a Mostra; esclarece que é no antigo BNU, hoje CGD, mas quem não vive em Lisboa, vai adivinhar? Ou a Mostra é só para conhecidos?

15.4.04

Os meninos bonitos I 

Eles andam aí!
Andam por todo o lado. Não bastando a Internet, ameaçam espalhar-se fora do mundo virtual.
Estes dias passados, por ocasião da ModaLisboa, deu para ponderar um pouco sobre este pequeno mundo e sua envolvência. Falar sobre moda não terá nenhuma graça - excepto se fosse designer de moda, vulgo estilista (não tendo total certeza se hoje esta afirmação estará correcta) -, interessa pois observar o ambiente criado à sua volta e as respectivas contaminações. Pelo menos no mundo do design nota-se a sua influência. A moda e em especial os eventos a ela ligados criam pequenos grupos, as elites, circulos restritos onde apenas se entra se provarmos que pertencemos ao grupo, através de "rituais" de aceitação e conhecimentos que só encontro paralelo, talvez na adolescência. Estes ambientes lembram-me inclusivé um fenómeno delirante, o tunning; se analisarmos com cuidado, o exibicionismo destes locais a nada melhor se assemelha; curiosamente ninguém dentro destes circulos se apercebe.
Mas dizia eu que o ambiente da moda influencia o design em geral, sobretudo na sua mediatização. Cria-se um universo, que talvez por ser chic ou o que preferirem designar, alguns pretendem seguir. Quem são eles? Eles são os criadores de sites de Internet dedicados (dizem eles) ao design.
Não vou sequer discutir o porquê de tudo hoje em dia se reunir debaixo da mesma designação, até parece que já não existe ilustração, fotografia, desenho ou outros. Nem tentar demonstrar definições de design e que estas não coincidem com o que estes sites mostram. De modo preferencial os levo a manterem-se informados sobre isso e não levarem a actividade para a descontracção. O Paul Rand fez vários trabalhos com imenso humor, mas nunca deixou de levar o trabalho a sério.
Vamos ser correctos! Lá porque o vosso site é "bonito" e "giro" e tem "estilo" não significa que seja sobre design. Se trabalham num atelier ou agência que se ocupa de projectos de design também não significa que o vosso site siga o caminho. Que o site seja pessoal, ainda se aceita. Que o site seja para informar, ainda se aceita. Agora colocar toda uma parafernália de elementos visuais, para variar, feitos em Flash (sim, porque é tão descarado, que se vislumbra à légua) e convidar todos os amigos para participarem, de modo a "encher" mais do que a preencher...
Será preciso revelar nomes? Porque aqui as semelhanças tornam-se gritantes. Em qualquer um destes sites existe um conjunto de links para outros iguais ou piores. Mais nenhum género que "ameace" ser diferente ou divergente terá direito a um acesso. Juntam-se em e-zines, divulgam notícias dos seus amigos, colocam posts em foruns de congratulação.
Ou seja, estamos perante uma elite.

30.3.04

Não há coincidências (?) 

No seu último comentário o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa afirmava que em política não haviam coincidências. Assim o facto do Prof. Cavaco Silva apresentar mais um livro e comentar as presidenciais não seria despropositado; o facto do Eng. António Guterres ter discursado a explicar a sua saída do governo num jantar oferecido pelo Dr. Mário Soares também não seria despropositado. Mas isto é o Prof. Marcelo, comentador e analista, as restantes figuras poderão não concordar (como aliás tentam tornar público).
Mantendo essa ponderação mas mudando de actividade, haverá coincidências no design? Se houver uma capa de CD musical e um cartaz de divulgação numa livraria que se assemelhem, será coincidência? Se ilustrações de um designer português e uma campanha italiana se assemelharem, será também coincidência? Se o logotipo de um grupo de design nacional e um outro desenhado por um grupo inglês se assemelharem, será igualmente coincidência? E se houver um autocarro a correr o país com fotografias que se assemelham a outros projectos que facilmente observamos na Internet, será tudo coincidência?
Observe-se atentamente a minha questão, eu ao contrário do Prof. Marcelo não o afirmo declaradamente, tenho as minhas reservas. Afinal, o universo da comunicação é vasto. Mas não estaremos também a presenciar demasiados momentos de repetição? Onde dificilmente nos surpreende qualquer objecto, devido ao elevado índice de semelhança?
Estreou-se uma moda, já não tão recente, de catalogar projectos como "conceptuais". Falei com muita gente que usava o termo para o bom e para o mau. Reparei também que não conheciam o significado da palavra, mas sim a acção necessária que dela advinha. Ou seja, ter um trabalho "conceptual" implicava que não era facilmente entendido e que por isso seria indispensável um esforço, o mesmo que dizer, tinha que usar o cérebro e sabemos que os "profissionais" não estão na disposição de o fazer (uns não têm tempo, outros não têm mesmo os miolos). Mas não estará este desprezo pelo "conceptual" a tornar irremediavelmente monótona a nossa função, impedindo de projectar com originalidade e aumentando gradualmente o nível de preguiça? Tanto ao ponto de apenas procurarmos inspiração em outros objectos de design, que "acidentalmente" são parecidos aos nossos?
Mas isto sou eu, que comento e analiso, as outras figuras talvez digam que não.

26.3.04

To be continued... 

Há questões de uma sensibilidade exagerada. De modo mais ou menos incompreensível, é difícil observar designers a falarem entre si, sobre o que fazem e em que termos. Este é o grande feito da CRAPD - Comissão para a Regulamentação da Actividade Profissional dos Designers, que se decidiu a atacar o problema desde o ano passado. Não quero com isto limitar o trabalho que desenvolveram e o muito que já fizeram, mas é "obra" reunir os membros da APD (Associação Portuguesa de Designers) e fazê-los falar.
A APD de resto, mais parecia extinta que outra coisa; não fosse esta revitalização por parte de quem é mais novo e talvez por isso mais determinado, estaria concerteza destinada a desaparecer e a nem sequer ser referida nas escolas como integrante da História do Design em Portugal.
A sua importância não é nem necessário aqui referir, qualquer leitor semi-atento deste blog já entendeu a preocupação que neste local existe sobre a actividade.
Mas existem quatro apontamentos, breves certamente, que me chamam a atenção.
Quem é que pertence a esta comissão e com que objectivos? Não haverá alguém a pretender um lugar de destaque numa Associação estabelecida?
Que restrições se vão aplicar à definição da actividade, nunca esquecendo os que a praticam sem formação académica e os que intervêm interdisciplinarmente?
Este recente período de inactividade a que se deve? Agora que o mais difícil parece estar feito, porquê a demora numa constituição definitiva? Burocracia (sempre ela)?
O enervante número de pré-inscritos! Com orgulho dizem: 500, mas não somos muito mais? Onde anda o resto?
Da nossa parte, fica aqui o incentivo:

http://www.crapd.pt.vu
http://www.associacaoportuguesadesigners.com

Não doi nada!

19.3.04

Deixa-me rir 

Pronto, ninguém leva o design a sério. Não é uma novidade. A população, o Estado, os clientes, por aí fora. Mas serem os próprios designers que não lhe tomam seriedade, já choca.
Os Dasein (começa logo pelo nome) são uns meninos (vou-me conter e não usar diminuitivos) que segundo eles abordam a problemática do design de um modo "descontraído".
Ena!
Ora eu diria que criar um espremedor de citrinos com o nome de mamas suculentas é um bocado mais que "descontraído"; colocar o nome em inglês não altera o facto; justificar que é só a ideia também não.
Mas isto foi só a introdução, porque o resto do trabalho assemelha-se a qualquer outra coisa que já nos incomoda ver, é a regência de projectos industriais pelo rigor da forma e o menosprezo de qualquer outra ideia, seja ela estética, funcional ou simbólica. Talvez seja aqui que este grupo aposte, num processo de trabalho que deve tudo ao Pedro Silva Dias e ao seu abundante desprezo pelo contexto de cada projecto; se a questão para este é a forma, ninguém esquece a cabine onde os invisuais partiam a cabeça ou a sinalização do património com forma de pá. Ainda aqui perdem, porque nada disto é descontraído, é no mínimo arrogante e irresponsável.
De modo que existem contradições que escapam a quem neles coloca confiança. Mas quem? Estou assim a lembrar-me... do Design Wise! Esse maravilhoso concurso onde um membro do júri foi também seleccionado. Estranho? Acham mesmo? Afinal foram os mesmos que revelaram à Experimenta este formidável grupo.
E só aqui é que se vislumbra algum humor.

11.3.04

Uma questão de responsabilidade 

Hoje deparei com vários exemplares do Roteiro do Museu Nacional do Azulejo, numa prateleira em destaque numa conhecida livraria. Enfatizo vários, porque já se adivinha uma posição; desconfio que ali não se tenha vendido um único exemplar. Ao mesmo tempo que aquele objecto é capaz de deixar indiferente qualquer leitor, serve também como espelho das virtudes dos responsáveis das estruturas museológicas. Este roteiro (dei-me ao esforço de o observar) contém o essencial, não mais. Imagens da colecção e textos a acompanhar, um formato demasiado vertical, um papel demasiado fino, planos demasiado preenchidos e já nem me lembro da capa. É melhor nem falar da identidade visual ou suposto logotipo deste museu...
Quer-me parecer que esta atitude, ou antes, esta leviandade reflecte a despreocupação em relação a toda a comunicação do Museu. Assim, não parece difícil responder à questão Porque é que os museus estão às moscas?. Há uma atribuição da responsabilidade aos cidadãos, como se não ir aos museus é não querer, sabem naturalmente que estes lá se encontram.
Mas e então os objectivos dos museus? Não será nenhum deles o atrair público? Não será nenhum deles motivar a visita? Não será nenhum deles presentear os cidadãos com convites? Aqui deve-se compreender a dificuldade do exercício museológico, as faltas de meios, a falta de pessoal; mas temos de ser honestos, estas entidades não estão a cumprir com as obrigações. O exemplo é a imagem, também podia ser os horários, ou até mesmo as exposições.
Também assim não é complicado destacar quem se esforça (ou quem simplesmente cumpre o que devia estar esclarecido). O Museu do Chiado tem-nos demonstrado que é possível a partir das exposições temporárias, comunicar devidamente o próprio Museu; seja no seu web site, seja nas edições que lança, seja nas visitas guiadas, seja nas "mesas redondas".
Nem é preciso eu tomar uma iniciativa, alguém antecipou-se.

3.3.04

If Vermeer were alive today... 

Em "Girl with a pearl earring" há actualidade. Não falarei tanto do filme como talvez ele mereça. Se não existe um "plot" que concentre a atenção e a perspicácia, até porque nota-se que não era esse o objectivo maior da obra, existe uma perícia na imagem. Estar na sala de cinema a ver este filme, é no sentido mais honesto do comentário, estar na Holanda do século XVII. Se o responsável pela fotografia é português, é perfeitamente indiferente; o que realmente importa é que faz um trabalho notável.
Mas há ainda, contudo, na história de Griet e Vermeer uma abordagem da vida do artista que não passa ao lado. Encurralado entre a falta de inspiração e o tempo que tal lhe demora e as encomendas irreflectidas de um patrono (retratado esse sim, como se de um português se tratasse), o artista sente-se impotente.
Neste contexto, o mais actual surge na declaração de sua sogra, «It's just pictures, they don't mean anything!». E que bom que era pensar que com o tempo as coisas se tornam mais claras, evidentes, lúcidas. Engano o nosso! Ainda hoje qualquer artista ou designer poderá testemunhar o mesmo a partir de reacções ou comentários ao seu trabalho. Já para não falar em encomendas, que no mínimo poderiamos designar como "parvas", à falta de melhor português (ou mais sincero).
Em "New Media Culture in Europe", publicado em 1999 em Amesterdão alguém escreve: «If Leonardo were alive today he would be a graphic designer»; quem sabe se Vermeer também. Mas ainda bem que não! Que triste seria desperdiçar tanto génio, ou simplesmente tanto talento na concepção de imagens.
Não faz ninguém pensar na actualidade?

28.2.04

Que fenómeno 

Sempre acreditei que discutir assuntos era uma maneira de os compreender melhor, e que daí pudesse resultar um conhecimento justo das matérias, bem como uma melhor contribuição para as mesmas, sempre que me competia tratá-las. Creio e julgo não estar errado, que a maioria dos meus colegas de actividade não partilha desta opinião. Portugal é aliás um exemplo que terei de designar como "fenómeno". Aqui os designers e demais pessoas que de um ou outro modo a eles estão associadas, acreditam cegamente que o melhor a fazer pela nossa profissão é estar calado, não discutir. Não precisamos pois de revistas, livros, artigos em jornais, programas de televisão ou rádio, conferências, debates. Nada!
A vida corre assim-assim, nada de bom ou mau se passa.
Agora, inevitavelmente a pergunta: é suposto o resto da população adivinhar qual a importância desta actividade na sociedade? Ouvimos o termo "design" em anúncios de televisão, referindo-se aos contornos de um carro, e achamos suficiente? Ou temos receio, que ao iniciar alguma discussão, venham ao de cima todas as nossas fragilidades e inseguranças nos conhecimentos que nos competia assegurar?
A frase adquire uma certeza desconcertante: algo "não" se passa....
Por isso é de saudar todas as tentativas que de algum modo tentem reverter este rumo de acontecimentos. Em Espanha, também se fala de Portugal...

http://homepage.mac.com/zemanel/EXDESIGNER
(um abraço)

27.2.04

Aprender com os erros? 

Trabalhar com tipografia deve ter um lado extremamente ingrato. A dedicação e o conhecimento facilmente se perdem num qualquer uso irresponsável.
O exemplo vem uma vez mais do melhor sítio. Devem concerteza lembrar-se dos boletins de voto que deram a "vitória" a George W. Bush nas últimas eleições presidenciais norte-americanas. A desatenção com esse "pequeno" e "frágil" objecto não serviu de lição, é preciso continuar a tentar errar, como nos demonstra o artigo escrito por Tom Vanderbilt na Slate. Aqui fica:

http://slate.msn.com/id/2095809

P. S. - E se assim é nos Estados Unidos...

20.2.04

Danos colaterais? 

Haverá hoje um verdadeiro espaço para os designers gráficos?
Qualquer leitor semi-atento e semi-conhecedor do termo dira que sim, concerteza que sim; afinal eles são tantos....
Mas refiro-me ao verdadeiro designer gráfico, aquele que em vez de ser considerado "gráfico" ou paginador, faz design, comunicação, concebe, pensa, projecta. Diria que pelo menos no que diz respeito ao universo editorial das revistas, não.
O primeiro factor preocupante até é mesmo o jornalístico, não leio nada este mês que não tenha lido o mês passado. É generalista demais dirão, claro que sim, pois há noticias todos os dias; mas tal afirmação não é totalmente refutável, sobretudo se caminharmos para uma análise com base na segmentação dos públicos.
Mas é o projecto visual que está invariavelmente condenado. A capa é insistentemente uma pessoa, reparem, não uma ideia, não um assunto, mas uma pessoa, de preferência conhecida. Se alguém ousa inovar, é para substituir por uma ilustração, que para ser "bem" é do João Fazenda ou de outro colega do grupo que ilustram tudo e mais alguma coisa, que já parece indiferenciável. O plano gráfico é intocável, a única pessoa que decide é o director; um mês de trabalho em composição e o director (ou cada vez mais a directora, residente em Cascais, na casa dos 50) olham e decidem alterar, porque para o seu superior julgamento está "horroroso".
Com algum saudosismo relembro as capas da Esquire, com o Andy Warhol a afogar-se na própria lata de sopa, ou o Nixon a ser maquilhado, ou até as soberbas composições da Almanaque pelo Sebastião Rodrigues.
Vi um anúncio à Tv Guia com a fotografia da Catarina Furtado na capa, por baixo dizia em letras gordas "Perseguida" e por baixo disto em letras reduzidas, quase ilegíveis "pela Tv Guia durante uma semana". Cada vez mais este termo tão difundido e temido de "comunicação social" tende a ser substítuido por "venda social".
Belas coisas que se compram.

17.2.04

Está Giro... 

Não é nova a atenção que é dada ao design pela maioria da sociedade. Os adjectivos não variam muito.
Assim não surpreende que na apresentação das novas camisolas da selecção de futebol, Luís Figo tenho o seguinte comentário:
- Têm um design bonito!
Não é que o design não possa ser bonito, mas acima de tudo que o Figo não é mais ignorante que grande percentagem de portugueses (alguns deles, clientes de variadíssimos projectos).
Mas além disto, qual a razão para tal? De onde vem essa noção básica e pouco esclarecida? E qual a culpa que os designers devem ou não assumir em tal questão?
Certo parece-me que ela existe e talvez não seja assim tão pouca. Várias áreas do design, nomeadamente o da moda, o gráfico e até o de produto têm assumido uma posição demasiado retiniana. Sem atingir na maioria das vezes um grau elevado de sofisticação visual, também renegam à capacidade funcional e sobretudo conceptual que poderia reger-lhes a disciplina do projecto. Ou seja, no bom ou no mau, a única coisa que deixam passar para a compreensão do público, mais ou menos generalista, é essa agradabilidade ao olho.
Torna-se por isso inacessível uma posição de maior respeito na comunidade.

13.2.04

Ricos clientes... 

Há um certo mal estar próprio de quem trabalha na área artística e da comunicação visual. Algo que dificilmente se encontra em outras áreas de actividade. Suponho que seja a constante pressão. Basta pensar na quantidade de pessoas, que estando envolvidas em determinado projecto, hão-de sempre opinar sobre o trabalho do comunicador visual.
Gosto sobretudo do papel do cliente neste processo. Imagino-o sempre a dirigir-se ao médico.
Quando um cliente se dirige a um médico, sugere-lhe o que fazer? Que procedimentos deve tomar? Que objectos deve utilizar? E quando vai ter com o advogado, ordena que estratégia utilizar? Que medidas deve evocar? Vamos lá a ser correctos! Não me ocorrem episódios de exigência de horários a médicos, advogados e demais profissões mais consagradas por estes lados.
É certo que em Portugal há a mania de ser treinador de bancada e que isso tende a espalhar-se pelas várias áreas do saber. Mas e então o Estado anda a formar profissionais no sector das Artes Plásticas, do Design, da Comunicação e por aí fora, para quê? Qual é o propósito disso, se em termos práticos ainda todos desconfiam das certezas, do conhecimento, da formação desses mesmos profissionais?

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