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4.8.04

Útil, do Latim utile 

Tento ser alguém inquieto diariamente. Prefiro assumir uma posição consciente na minha profissão e como tal pondero constantemente sobre ela. Por vezes o pensar sobre uma determinada questão leva-me a alterar uma opinião ou a mudar um processo, outras serve exclusivamente para reforçar aquilo em que já acreditava.
Sempre me convenci de que a haver um propósito para a actuação dos designers seria a concepção de objectos nas suas variadas dimensões, que estes seriam consubstancialmente distríbuidos, adquiridos e utilizados por alguém e que estas premissas levariam a uma conclusão natural, de que os designers ao conceber esses mesmos objectos tivessem presente quem os iria utilizar.
Em termos de comunicação visual a ideia mantém-se inalterável, quando temos um projecto em mãos creio que pensamos em quem vai recebê-lo, mesmo que considere que sou o autor e que posso criar como quiser.
Relembro que a profissão de designer pertence à área dos serviços. Engana-se quem pensa que providenciamos um qualquer produto. Na sua generalidade os designers dispensam a execução final dos objectos, os quais terão que ser reproduzidos por meios industriais. Talvez se confunda quem hoje depende exclusivamente do seu computador pessoal e julga que o trabalho aí impresso é final; mas não é preciso um conhecimento profundo para deduzir o que é "arte final" e para que serve. No que importa é que o serviço que os designers prestam pressupõe alguém que o pediu e recebe.
Ao ver televisão apercebi-me do limbo pelo qual alguns colegas passam. Na 2: transmitiam o PopUp que incluía uma reportagem sobre design gráfico e sobre uma exposição na Fabrica Features. De referir que neste programa espera-se que se apresente, esclareça e divulgue um qualquer projecto.
Depositava grandes esperanças neste, que poderia aqui confirmar as minhas opiniões sobre o objectivo do design, que este projecto se preocuparia com alguém, com o "público-alvo" ou "target" (nomes tão queridos do ensino e da gíria projectual), que mesmo sendo para divulgação de nomes do design gráfico em Portugal, estes poderiam apresentar exemplos do seu trabalho e portanto, objectos de design.
Não.
E espante-se ou não o discurso verbal segue os condimentos do discurso visual, nas palavras de António José Seguro ao referir-se ao programa de Governo proposto por Santana Lopes, «um conjunto de banalidades», «um flop». Grave quando se afirma ser uma montra de novas tendências; já se tinha depreendido isso das imagens, mas era justo colocar a dúvida de nos escapar alguma coisa... mas não, de facto não escapou.
O design nasceu e cresceu como actividade devido a um simples facto: é útil. Se ainda existe, sobrevive e podemos argumentar a sua importância é porque é necessário a alguém, de preferência alguém que não exclusivamente o próprio designer, pois desvinculado de qualquer preocupação social, objectiva e de reprodução, afastado de um pensamento sobre o índividuo e a vida em conjunto, não haveria razão ou justificação para existir e seria um empecilho, pois outras actividades já ocupam essas mesmas funções.
Não nos deixemos por isso enganar, quando se vende em S. Pedro de Alcantâra, imagens que ostentam a expressão de Design Gráfico mas cuja única utilidade é pendurar em casa na parede, não estamos a falar de Design Gráfico; isto deve-se à confusão que alguém anda a espalhar. E vozes de burro não chegam ao céu...

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