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11.11.04

A imagem... a imagem... 

Quanto mais cedo nos habituarmos ao concreto da nossa cultura mais cedo nos deixaremos de espantar com os seus fenómenos, mais ou menos mediáticos. Talvez derive em parte desta propensão ao hábito, a indiferença ou o vazio do nosso olhar e acção sobre a aparente aleatoriedade dos acontecimentos. Não que deixe de ser incomodativo o absurdo a que está condenado o nosso futuro pelas manifestações presentes, mas porque a sensação de incapacidade se sobrepõe à melhor das reacções.
Não é que Guta Moura Guedes não seja uma boa escolha para a Administração do CCB, mas é a base em que essa mesma escolha é sustentada. Pensemos assim: numa estrutura cultural pública, onde não se conhece propriamente uma direcção, uma política consistente e demarcada, uma qualquer estratégia, não é que faça alguma diferença quem é escolhido para a administrar. Contudo, alguma franqueza por muito que destoe, só encoraja; é alguém que nada fez para lhe ser atríbuido este papel. É Directora da ExperimentaDesign - bienal de Lisboa. Facto. Mas que grande resultado é esse de convidar designers estrangeiros a vir expor e falar ao nosso país com apoios obtidos à custa de uma imagem construída do papel impresso à roupa? Ou nas palavras de Natxo Checa «Talvez não tenha currículo suficiente, além do charme. Mas, se a cultura em Portugal funciona assim (...)».
No mais grave, não me sinto particularmente incomodado com a sua nomeação. Mas será de ponderar, o que leva alguém, que supostamente se quer sério, atento, dinamizador, a escolher uma personalidade que não integra em si experiência suficiente para o cargo. Pensemos novamente de outro modo: há algum empregador (mesmo o Estado), actualmente a seleccionar candidatos sem experiência para determinados cargos? Passaria pela cabeça de algum de nós fazer o contrário? Então como se explica? E aqui reside o cerne da minha dúvida. Esta individualidade poderá fazer maravilhas, tal como desejamos que assim aconteça, mas permanece uma notória e crescente desconfiança.
Há no entanto um factor positivo concerteza, pois carregamos à muito um peso, esse da direcção e decisão na área do design ser conduzido por alguém, de certo modo estranho a ela. No CPD presidia um arquitecto pouco ligado à prática do design, neste momento um designer mas que não é formado em design, agora na Experimenta sempre tinhamos alguém que não era designer mas que se encontra inscrita no 2º ano de um curso de design. Com alguma sorte, haverá numa década ou duas, uma pessoa formada na área a designar o futuro.
Encontramos aqui um factor de agrado, bem vistas as coisas é uma "apreciadora de design" que vai administrar o CCB. Até já me sinto mais contente. Pena é que talvez não bastem as tais "mais-valias" que afirma possuir para a dinamização daquele espaço; pena é que se o «compromisso com a qualidade e a excelência» for o que temos observado na bienal, não podemos esperar muito.

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