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9.1.05

«Think more, design less.» 

É o que Ellen Lupton costuma dizer aos seus alunos no Maryland Institute College of Art em Baltimore, Estados Unidos. Pretende com isto que sigam ideias e conceitos próprios, não optando por orientar os seus projectos pelo estilo ou pela tecnologia. Num contexto onde a proliferação de objectos e do próprio serviço é já considerado excessivo, surge com naturalidade este apelo a uma reflexão, à consideração de um processo que se deve pautar sobretudo pela pertinência e pela presença de objectivos simples. A utilização de ferramentas digitais proporciona uma conclusão apressada, a de que a extensão dos projectos pode ser encurtada, levando inevitavelmente em vários locais à supressão do tempo de gerar ideias, o mais necessário de todos. É claro que se David Carson tivesse seguido o conselho nunca se teria destacado como um designer intuitivo e de uma capacidade infindável de produção.
Mas a frase transporta mais significado do que este. Para além de se tornar importante para a aproximação e compreensão que fazemos do processo, seja ele o praticado no ambiente académico ou no local de trabalho, mal não faria se afastando do seu objectivo pedagógico, a contextualizássemos no método profissional da actividade.
Prepassa-me uma sensação que, concentrado mental e temporalmente no seu projecto, falte ao designer, por vezes, a noção de como orientar o seu trajecto profissional. O que acontece em demasia, provocado não apenas por esta aventura tecnológica, mas acima de tudo porque o designer não "conduz" o seu processo de trabalho; ele é antes, "conduzido", permitindo que a sucessão de acontecimentos o responsabilize directamente, sem que tal seja feito de modo auto-consciente.
O melhor exemplo que temos será o dos concursos. Em Portugal, na área do design gráfico, são raros os objectos visuais que são criados sem ser por concurso. Seja o convite público ou restrito, as demais entidades pedem ante-projectos com a mesma arrogância e surrealidade que entrar num restaurante e pedir n pratos para escolher o que mais apraz.
Vamos supor que estes concursos são transparentes (que não são), organizados por entidades que sabem o que querem (que não sabem), que respeitam os designers a quem se dirigem (que não respeitam) e que não irão, de modo algum, escamotear as regras morais e profissionais (que escamoteiam). Vamos supor tudo isto para reduzir o escopo da mensagem que aqui se tenta passar.
Um "profissional" só o é quando pratica uma profissão, ou seja, faz de uma actividade o seu dia-a-dia e depende financeiramente dela; não se confunda profissionalismo com competência, por muito rigorosos que sejam os designer por cá, a verdade é que existe uma larga quantidade que é semi-profissional, quando aceita participar nestes concursos. A maioria sabe que não vai ser escolhida, seja por razões de gosto, de favorecimentos ou outros e que estes concursos não cobrem as despesas e honorários das propostas não seleccionadas; o que equivale a uma parcela, por vezes considerável, de trabalho não remunerado.
Costuma-se dizer que tempo é dinheiro, só os designers não sabem ou não se lembram disso, preferem dispender tempo em projectos que não se vão cumprir do que em cimentar uma relação mais esclarecedora com a comunidade.
O segredo da actividade está em dois pressupostos colectivos e generalizados: atitude e confiança. Marcar uma posição determinante, no que diz respeito aos métodos de trabalhos que proliferam no mercado e elaborar uma estratégia que ganhe a confiaça da sociedade, seja pela educação, seja pelo explicitar das vantagens inerentes à actividade.
Ora um designer que não queira tornar a sua posição na sociedade melhor e que não queira trabalhar no sentido de esclarecer aqueles que serve, não estará a pensar muito.

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