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21.5.04

Pois, pois... 

Tenho por hábito brincar com a política, pelo menos no que diz respeito à comunicação que empreende. Torna-se por isso natural tecer piadas sobre os rostos dos líderes e candidatos, pois nada mais se vê de um partido ou força política. As mensagens são fracas na sua propensão ao universal e os cartazes, a funcionar, dependem largamente de outros meios, sobretudo da televisão. Esta abordagem não rentabiliza muitas opções e torna-se uma fórmula difícil de contornar. A um rosto segue-se outro e imagine-se que a pessoa em questão não obtém simpatia por parte do público, ou simplesmente não é mediática...
Recentemente piorou.
Frente a um duplo problema, as duas forças políticas mais relevantes tiveram que puxar pela habilidade e agilidade publicitária e visual. Trata-se das eleições europeias, caso complicado já se sabe; mas acima de tudo a escolha dos cabeças de lista, Sousa Franco pelo PS (que não é a personalidade mais apetecível para colocar num cartaz) e Deus Pinheiro pela coligação Força Portugal (escolhido tarde e a más horas, o que também impossibilitou-o de aparecer em cartazes). Face a isto, o PS foi o primeiro a apostar numa estratégia para as eleições, que se consubstanciou na metáfora do cartão amarelo, de imediato seguida pela "resposta" da coligação, imagine-se, um cartão vermelho.
Além da fraca sugestão, urge indagar o que compreende então o comum português destas mensagens. Antes de mais nada, que alguém quer admoestar o Governo em exercício de funções e que os partidos que o apoiam ainda se escondem no passado para se defenderem. Preocupante é que em lado algum se faz referência a umas eleições que estão demasiado próximas, de temas que nunca foram abordados em tempos recentes. Por aqui observa-se a verdadeira consternação da classe política com o fenómeno da abstenção. Também se compreende que eleger deputados para o Parlamento Europeu não é motivo de trabalho. Em bom dizer, sabe-se das "folgas" e "flexibilidades" da função, mas numa estatística recente a maior parte da população portuguesa não conhecia os cabeça de lista de cada partido. Digam que é sobretudo nas ideias que apostam, muito bem, mas se nem sinal delas...
O Dr. Mário Soares comentava há poucas semanas que a renovação democrática é positiva, atendendo ao agrado de ver um partido suceder a outro na chefia do Estado. Mas para que tal aconteça é necessário providenciar alternativas e dá-las a conhecer com antecedência. Ora o que neste caso acontece é que nada se conhece. Por muito podemos falar numa não-comunicação assente no pressuposto necessário da distinção. Regra básica do marketing é a diferenciação, se existe a pretensão de criar escolhas, as mesmas devem ser comunicadas dentro de uma lógica de afastamento das restantes, ou seja pela diferença criamos a nossa identidade e o nosso lugar. Isso não acontece com cartões, escrevam o que quiserem por baixo, deêm-lhe a cor que vos apetecer.

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