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22.7.04

Style = Fart 

Andamos todos atarefados com a criatividade. Precisamos de criar uma brochura para um cliente, precisamos de criar um logotipo para outro, criamos ilustrações e fotografias nos tempos livres e ainda pretendemos criar qualquer coisa, que não sabemos muito bem o que é, mas que temos eventualmente de criar.
Estamos de tal modo concentrados nesta imposição que nos parece garantido que somos de facto criativos; aliás, nós somos os "criativos". A tal ponto que nos concedemos o luxo (há quem lhe chame desígnio) de criar por criar, o que por sua vez significa, fazer por fazer. Esta criatividade assim preconizada, na era informática, é rápida, limpa, bonita, mas corre muitas vezes o risco de se tornar, também rapidamente, oca, banal, inútil e desprovida de objectivo. Para onde vai tanta criatividade? Porque desaparece ela? E porque foi iniciada segundo essa mesma condição?
O que falta relembrar aos designers é que a criatividade não é apanágio da nossa profissão, mas sim uma possibilidade utilizada e ao alcance de todos. Bastaria, segundo os termos do "criar por criar", observar quem hoje em dia pratica (ou julga praticar - uma outra questão) design para poder concluir isto mesmo. Mas não me refiro a isso. É à utilização corrente, diária e sistemática da criatividade (a real) em tudo o que é actividade humana. Curioso verificar que em nenhuma outra área se cria "por criar", mas inclui-se sim a noção numa prática de modo a favorece-la.
Não são poucos os designers que, em todo o mundo, consideram que criar é obter um nível gráfico individual suficiente, a partir do qual se impõem e se expressam, vulgarmente designado por "estilo". Tantas horas a trabalhar para descobrir um toque exclusivo, intransmíssivel, numa aproximação ao genial; tudo para que finalmente o mundo saiba quem é e como trabalha. Os objectos são agora projectados na medida em que têm a dádiva da sua criação e são reconhecidos por isso. Toda essa criação tem como objectivo atingir uma identificação pessoal, a conquista de uma "assinatura" ou "carimbo" e que permite-nos reconhecer o designer de determinado projecto.
Apela-me referir como exemplo o cartaz de Stefan Sagmeister para a Cranbrook Academy of Art e para a AIGA Detroit de 1999, onde no seu próprio corpo infligia no abdómen a frase «Style = Fart», que em português se torna «Estilo = Peido»; curiosamente os anglo-saxónicos têm um outro significado para a palavra fart: «stop wasting time not doing very much», o que para esta discussão me parece indiferente.
O que julgo ser de salientar é que anda muita gente a utilizar a mensagem do cliente para fazer passar a sua própria urgência de comunicação e que apesar de se convencer que trabalha, que cria, que é original, não tem andado afinal a fazer grande coisa.

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