<$BlogRSDURL$>

23.6.04

Fé: falta e excesso 

Todo o acto de criação pressupõe a existência de um criador.
É vulgar os designers pensarem num projecto sem assumirem as devidas responsabildades. Consideram que inequivocamente é-lhes entregue uma mensagem, a qual deverão trabalhar e prestar fidelidade. Resta admitir que o seu próprio trabalho é em si, igualmente, uma mensagem.
Para Paul Rand «Art is primarily a question of form, not of content». A discussão muito processada nos media britânicos (imprensa especializada) para mim perde algum do seu sentido, na medida em que a forma (ou a materialização) de uma mensagem fará parte do conteúdo, ou antes, será também conteúdo. Seja um símbolo, o layout de uma página, um cartaz, terá um criador. Os estudos de semiologia apresentados por Barthes e a sua decomposição das mensagens publicitárias não criam aliás distinção entre os parâmetros que os próprios designers e alguns críticos equacionam.
Nesta observação, julgo que a história está do meu lado. A principal oposição ao International Style na tipografia e no desenho de páginas era precisamente a presença de um discurso demasiado neutro ou com aspirações a tal. Ao qual Wolfgang Weingart soube responder com a inclusão de motivos e experimentações subjectivas e que pressionavam o assumir de uma diversidade através da denotação do próprio autor. Aqui é ultrapassado o «You cannot not communicate» de Tibor Kalman; sendo que este é certo, é então necessário encontrar a comunicação mais adequada a uma determinada mensagem ou necessidade de comunicação. Se quisermos, um equivalente visual ao "texto" ou ideia ou pensamento e que portanto não deixará de ser uma mensagem em si. Não é aliás uma afirmação que deva surpreender os mais atentos. Bastará ir a uma exposição e concluir que um qualquer quadro ou escultura é uma comunicação por si.
O que me provoca consternação é o termo "design de autor". Pelo que me apercebo, todo o projecto de design tem um autor. Mais uma vez, creio, caimos numa confusão de designações que não sabemos esclarecer com lucidez. Parece-me que o termo visa apenas e meramente o estilo com que um determinado autor, neste caso designer, se exprime ou presenteia o objecto do seu trabalho. É nesse aspecto uma ferramenta de marketing, uma ilusão, um fenómeno de vendas.
Pior é testemunhar a pretensão de alguns a esta posição semi-elitista e semi-parola. Em Por outro lado, Jorge Silva admitia ter chegado a um nível em que era reconhecido um projecto seu; ou seja, através da observação de um determinado periódico ou revista do qual é director de arte, era fácil concluir que seria ele o autor. Não podia estar mais errado. E ainda bem. Tem feito muito e de boa qualidade, mas daí a reconhecer-se elementos, composições, formas, presenças que sejam assumidamente dele, estará algo longe ainda. Justificava-se com o facto de julgar intervir nos objectos tentando dar-lhes um valor acrescentado. Pois bem, mas se não é isso que todo o designer tenta, então será o quê? Tal característica nunca foi suficiente para distinguir seja quem for.
Mais de resto prefiro a importância dada ao projecto do que ao autor. Melhor para nós, pior para ele.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?