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7.6.04

Quando não sabes o que quer dizer, vai ao Dicionário! 

Como isso normalmente não se faz, facilito então o trabalho: no Dicionário de Língua Portuguesa não está presente o termo design. Não me surpreende, já que se trata de uma palavra com origem anglo-saxónica. Mas numa breve passagem pelo Dictionary of Contemporary English é possível retirar dois pequenos significados, que transcrevo agora:
«design 1. to make a drawing or plan of something that will be made or built; 2. to plan or develop something for a specific purpose.»
Não é uma definição extensa e até prefiro assim, sabendo que o termo é vasto no seu significado e que temos diversos problemas em adaptá-lo à prática e em última análise, inclusivé na teoria. Mas considero, ou pelo menos tenho esse desejo, que quem pratica a actividade tem um ligeiro (não peço muito) conhecimento do termo e do seu significado e que por isso não seja difícil empregá-lo. O facto de ser vasto não lhe retira a origem nem a possibilidade de se renovar. É-me indiferente se acreditam no Gropius ou no Maldonado, no Papanek ou no Munari, no Maeda ou no Bruce Mau. Torna-se necessário é admitir que o que fazemos tem um propósito e uma utilidade.
Ora eu tinha uma ideia mais ou menos bem preparada sobre a qual ia escrever, pensava nela há dias, mas lá fiquei a saber da inauguração da MusaTour na Fábrica Features. Tendo consciência do significado que acabei de transcrever e não tendo encontrado aspectos do mesmo nesta exposição, fui procurar um que melhor se ajustasse.
Então no Dicionário de Língua Portuguesa está presente o seguinte:
«ilustrar decorar com desenhos; instruir; esclarecer por meio de comentários, de exemplos.»
Ou no de Inglês:
«illustration 1. a picture in a book, article, etc, especially one that helps you to understand it; 2. a story, event, action, etc, that shows the truth or existence of something very clearly.»
Nutro o maior dos respeitos pela ilustração, quando esta se apresenta com qualidade e cumpre aquilo que julgo ser proveitoso e lógico no seu papel, o de comunicar algo que não se apresenta directamente no texto, ou seja, que por mim bem pode ser não-descritiva, ou até não acompanhar texto algum, mas sim uma ideia, conceito ou provocação. Desta perspectiva a exposição que comento pode ter "aspirações a...", mas nunca a um objecto de design.
O que se pode assistir no Chiado é uma demonstração de virtuosismo visual sem qualquer finalidade projectual. O trabalho assim considerado não tem como objectivo solucionar um problema, mas sim compor um outro. Não um problema no mau sentido, mas na medida em que se torna, tal como uma pintura ou escultura, indecifrável; de acesso cada vez mais restrito em termos de informação.
Que o design necessite de transformação, de encontrar novos caminhos, de aceitar novas linguagens, estou perfeitamente de acordo, mas que objectivo é esse de o orientar para lugares que já existem?
Que 15 designers portugueses tenham decidido pintar com o computador, ainda se aceita; agora que se pretende «elevar e divulgar o design em Portugal», é conversa de engenheiros, advogados, ou outra profissão qualquer, mas não de designers.
Portanto, ou se substitui os termos, ou se substitui os trabalhos.

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