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28.2.04

Que fenómeno 

Sempre acreditei que discutir assuntos era uma maneira de os compreender melhor, e que daí pudesse resultar um conhecimento justo das matérias, bem como uma melhor contribuição para as mesmas, sempre que me competia tratá-las. Creio e julgo não estar errado, que a maioria dos meus colegas de actividade não partilha desta opinião. Portugal é aliás um exemplo que terei de designar como "fenómeno". Aqui os designers e demais pessoas que de um ou outro modo a eles estão associadas, acreditam cegamente que o melhor a fazer pela nossa profissão é estar calado, não discutir. Não precisamos pois de revistas, livros, artigos em jornais, programas de televisão ou rádio, conferências, debates. Nada!
A vida corre assim-assim, nada de bom ou mau se passa.
Agora, inevitavelmente a pergunta: é suposto o resto da população adivinhar qual a importância desta actividade na sociedade? Ouvimos o termo "design" em anúncios de televisão, referindo-se aos contornos de um carro, e achamos suficiente? Ou temos receio, que ao iniciar alguma discussão, venham ao de cima todas as nossas fragilidades e inseguranças nos conhecimentos que nos competia assegurar?
A frase adquire uma certeza desconcertante: algo "não" se passa....
Por isso é de saudar todas as tentativas que de algum modo tentem reverter este rumo de acontecimentos. Em Espanha, também se fala de Portugal...

http://homepage.mac.com/zemanel/EXDESIGNER
(um abraço)

27.2.04

Aprender com os erros? 

Trabalhar com tipografia deve ter um lado extremamente ingrato. A dedicação e o conhecimento facilmente se perdem num qualquer uso irresponsável.
O exemplo vem uma vez mais do melhor sítio. Devem concerteza lembrar-se dos boletins de voto que deram a "vitória" a George W. Bush nas últimas eleições presidenciais norte-americanas. A desatenção com esse "pequeno" e "frágil" objecto não serviu de lição, é preciso continuar a tentar errar, como nos demonstra o artigo escrito por Tom Vanderbilt na Slate. Aqui fica:

http://slate.msn.com/id/2095809

P. S. - E se assim é nos Estados Unidos...

20.2.04

Danos colaterais? 

Haverá hoje um verdadeiro espaço para os designers gráficos?
Qualquer leitor semi-atento e semi-conhecedor do termo dira que sim, concerteza que sim; afinal eles são tantos....
Mas refiro-me ao verdadeiro designer gráfico, aquele que em vez de ser considerado "gráfico" ou paginador, faz design, comunicação, concebe, pensa, projecta. Diria que pelo menos no que diz respeito ao universo editorial das revistas, não.
O primeiro factor preocupante até é mesmo o jornalístico, não leio nada este mês que não tenha lido o mês passado. É generalista demais dirão, claro que sim, pois há noticias todos os dias; mas tal afirmação não é totalmente refutável, sobretudo se caminharmos para uma análise com base na segmentação dos públicos.
Mas é o projecto visual que está invariavelmente condenado. A capa é insistentemente uma pessoa, reparem, não uma ideia, não um assunto, mas uma pessoa, de preferência conhecida. Se alguém ousa inovar, é para substituir por uma ilustração, que para ser "bem" é do João Fazenda ou de outro colega do grupo que ilustram tudo e mais alguma coisa, que já parece indiferenciável. O plano gráfico é intocável, a única pessoa que decide é o director; um mês de trabalho em composição e o director (ou cada vez mais a directora, residente em Cascais, na casa dos 50) olham e decidem alterar, porque para o seu superior julgamento está "horroroso".
Com algum saudosismo relembro as capas da Esquire, com o Andy Warhol a afogar-se na própria lata de sopa, ou o Nixon a ser maquilhado, ou até as soberbas composições da Almanaque pelo Sebastião Rodrigues.
Vi um anúncio à Tv Guia com a fotografia da Catarina Furtado na capa, por baixo dizia em letras gordas "Perseguida" e por baixo disto em letras reduzidas, quase ilegíveis "pela Tv Guia durante uma semana". Cada vez mais este termo tão difundido e temido de "comunicação social" tende a ser substítuido por "venda social".
Belas coisas que se compram.

17.2.04

Está Giro... 

Não é nova a atenção que é dada ao design pela maioria da sociedade. Os adjectivos não variam muito.
Assim não surpreende que na apresentação das novas camisolas da selecção de futebol, Luís Figo tenho o seguinte comentário:
- Têm um design bonito!
Não é que o design não possa ser bonito, mas acima de tudo que o Figo não é mais ignorante que grande percentagem de portugueses (alguns deles, clientes de variadíssimos projectos).
Mas além disto, qual a razão para tal? De onde vem essa noção básica e pouco esclarecida? E qual a culpa que os designers devem ou não assumir em tal questão?
Certo parece-me que ela existe e talvez não seja assim tão pouca. Várias áreas do design, nomeadamente o da moda, o gráfico e até o de produto têm assumido uma posição demasiado retiniana. Sem atingir na maioria das vezes um grau elevado de sofisticação visual, também renegam à capacidade funcional e sobretudo conceptual que poderia reger-lhes a disciplina do projecto. Ou seja, no bom ou no mau, a única coisa que deixam passar para a compreensão do público, mais ou menos generalista, é essa agradabilidade ao olho.
Torna-se por isso inacessível uma posição de maior respeito na comunidade.

13.2.04

Ricos clientes... 

Há um certo mal estar próprio de quem trabalha na área artística e da comunicação visual. Algo que dificilmente se encontra em outras áreas de actividade. Suponho que seja a constante pressão. Basta pensar na quantidade de pessoas, que estando envolvidas em determinado projecto, hão-de sempre opinar sobre o trabalho do comunicador visual.
Gosto sobretudo do papel do cliente neste processo. Imagino-o sempre a dirigir-se ao médico.
Quando um cliente se dirige a um médico, sugere-lhe o que fazer? Que procedimentos deve tomar? Que objectos deve utilizar? E quando vai ter com o advogado, ordena que estratégia utilizar? Que medidas deve evocar? Vamos lá a ser correctos! Não me ocorrem episódios de exigência de horários a médicos, advogados e demais profissões mais consagradas por estes lados.
É certo que em Portugal há a mania de ser treinador de bancada e que isso tende a espalhar-se pelas várias áreas do saber. Mas e então o Estado anda a formar profissionais no sector das Artes Plásticas, do Design, da Comunicação e por aí fora, para quê? Qual é o propósito disso, se em termos práticos ainda todos desconfiam das certezas, do conhecimento, da formação desses mesmos profissionais?

10.2.04

Experimenta tudo! 

Os diversos percursos que seguimos, de designers, artistas, agências, grupos, sempre com curiosidade, com ânimo pela aprendizagem e comparação são mínimos quando se discute algo como a polivalência. E de que polivalência falamos afinal? Aquela que sendo mais descarada é também a menos notada.
Que se mude de actividade, compreende-se e por vezes até se encoraja, mas manter duas, que parecem à partida incompatíveis...
De dois em dois anos reunem-se nomes, mantêm-se actividades, fazem-se exposições, conferências, workshops, sempre com uma lista enorme de apoios. No tempo intermédio, passa-se a funcionar como atelier ou gabinete de projectos.
Este o verdadeiro risco anunciado da ExperimentaDesign. Toda a prática que se foi desenvolvendo durante as bienais, serviu apenas para dar a Portugal e aos portugueses uma imagem errada do que é o design. Alguns ainda poderão perguntar: porquê?
E daqui responde-se com outra pergunta: ainda não se aperceberam?
Os portugueses ficaram tão convencidos de que o que era design (palavra ainda estranha e incompreendida pela nação) estava associado apenas e só à Experimenta - Bienal e Associção, que já lhes pedem projectos, que supostamente são da responsabilidade de designers e não de Associações. Antes tivemos o caso da Feira do Livro, no presente é o espaço de Santos.
Agora, isto foi truque ou irresponsabilidade?

6.2.04

Excelente argolada 

Hoje ao ver uma reportagem na 2:, sobre a editora Cavalo de Ferro, lembrei-me (ao olhar para as capas dos livros) de uma outra reportagem na revista Periférica de há já uns meses, onde não só se falava de literatura, como numa passagem o autor do texto referia-se às capas com a expressão "excelência gráfica"; se não foi este o termo e se me falha a memória, também não estarei muito longe da verdade.
Ora nota-se que por aí há muito boa gente que volta e meia põe-se a falar do que não devia, pois não compreende, e às "páginas tantas" mete o pé na argola. Se não tinha mais do que falar, estava calado; se julga que pode emitir opiniões, sem mais nem menos, sobre matérias, que está visto não domina, deixe-as para os outros.
Se há qualquer coisa que se possa chamar às escolhas visuais, ou apenas no que diz respeito ao plano gráfico desta editora, não será de certeza "excelência".
Atentem que não me pronuncio sobre a qualidade literária das suas escolhas, aliás, parece-me lógico que se a Cavalo de Ferro está plenamente convencida das suas opções, e que estas recaiem num grupo qualitativo, então o mínimo que poderiam fazer era dar vida a cada uma, distinguindo-as. Esse o príncipio primeiro da identidade visual. Sempre que se lança um olhar sobre qualquer um dos seus livros, parecem todos o mesmo. Vendem-se livros ou só a imagem da editora?

5.2.04

Procura-se: Anunciante que saiba escrever 

Há uma perplexidade ao cruzar os olhos por qualquer pedaço de papel, onde de repente alguém coloca um anúncio a pedir profissionais relacionados com o design. E até já nem é (o que também não deixa de ser chocante) com os pedidos, como por exemplo:
Procura-se Designer Gráfico / Habilitações: 12º ano;
Procuram-se estagiários (em rodapé: estágios não remunerados).
Trata-se acima de tudo de uma tremenda confusão de nomes, que em grande parte não passa de uma perfeita idiotice. Exemplos:
flash designer;
engenheiro do produto;
operador gráfico;
criativo;
arte finalista.

O problema aqui nem é tanto a utilização dos termos, é que quem os coloca ainda quer ser levado a sério.

Promessas, promessas... 

Algo de errado se passa com a cultura e com a comunicação visual em Portugal.
Mais do que à partida se possa supor, mais do que se consegue lembrar a maioria.
Ainda mais grave se torna quando os profissionais do sector conhecem a situação e não agem, ou pior, quando a desconhecem por completo.
A isto iremos dedicar a nossa análise.

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