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27.5.04

Outros costumes... 

Recentemente o Icograda lançou os resultados de mais uma "sondagem"/opinião realizada. O tema referia-se aos diversos modos em que os designers praticam a profissão e a pergunta era qualquer coisa como: «Are you a freelancer, a corporate employee or part of a design team?».
Habituado que estou a Portugal e em seguir o dia-a-dia de um país que embora pertencendo a uma União, vai-se fechando à medida que esta se expande, pensei que o resultado não me fosse surpreender. E eis que estava errado.
Dos que contribuiram para esta amostra, 44% afirmam trabalhar como freelancers, 32% fazem parte de uma equipa de design e 27% estão empregados num local que não é empresa de design.
O meu espanto diz sobretudo respeito à elevada percentagem de freelancers, ou antes, que esta seja a maioria. É lógico que poderão dizer que a maioria respondeu freelancer porque foram os que tiveram tempo para lá ir votar, os restantes trabalham mais; ou simplesmente, que nem todos conhecem o organismo, a sua importância e dispensam a visita. Mas considero que ainda assim é digno de registo ou pelo menos de comparação.
Em Portugal o designer freelancer é olhado com desconfiança ou então é desprezado, à excepção de uns poucos, que a muito trabalho ganharam o seu próprio estatuto. O regime de trabalho é pouco seguro, grande parte das vezes não há contrato, não existe uma segurança que derive da dependência económica mensal e fixa. O local de trabalho será maioritariamente o da habitação. Desvantagens importantes.
Suponho que a questão se possa dividir em duas partes: o regime de freelancer em ateliers ou agências de design e fora delas.
Em ateliers ou agências, os responsáveis preferem pessoas a trabalhar no local. Pagam-lhes pouco ou menos e controlam todos os gestos criativos. Têm ali "serventes" que não pensam, executam. O freelancer sai sempre mais caro e não é controlável.
Fora das agências, os clientes desconhecem-no pois o esforço de promoção é bastante reduzido, o que acaba por levar os potenciais clientes a optarem por agências, às quais vão ter de pagar bastante mais por projecto. Tanto num caso como noutro, é o freelancer que sai prejudicado, o que não dá boas indicações de prosseguir uma actividade deste modo.
Contudo para balançar não será possível encontrar nada mais refrescante no mercado do que alguns projectos desenvolvidos por freelancers, o que naturalmente advém de um afastamento das tendências sedentárias das agências, de uma recolha de informação criteriosa e de um processo de trabalho mais prolongado ou mais preocupado em subverter a metodologia projectual. Vantagens importantíssimas!
De repente lembro-me que o Paul Rand, o Peter Saville, o Neville Brody e o David Carson demarcaram-se através de um percurso algo solitário e só mais tarde criando um gabinete com mais pessoas, no caso dos três últimos. Em Portugal resta a esperança de o fenómeno ser copiado, ou que as tarifas de avião comecem a baixar...

21.5.04

Pois, pois... 

Tenho por hábito brincar com a política, pelo menos no que diz respeito à comunicação que empreende. Torna-se por isso natural tecer piadas sobre os rostos dos líderes e candidatos, pois nada mais se vê de um partido ou força política. As mensagens são fracas na sua propensão ao universal e os cartazes, a funcionar, dependem largamente de outros meios, sobretudo da televisão. Esta abordagem não rentabiliza muitas opções e torna-se uma fórmula difícil de contornar. A um rosto segue-se outro e imagine-se que a pessoa em questão não obtém simpatia por parte do público, ou simplesmente não é mediática...
Recentemente piorou.
Frente a um duplo problema, as duas forças políticas mais relevantes tiveram que puxar pela habilidade e agilidade publicitária e visual. Trata-se das eleições europeias, caso complicado já se sabe; mas acima de tudo a escolha dos cabeças de lista, Sousa Franco pelo PS (que não é a personalidade mais apetecível para colocar num cartaz) e Deus Pinheiro pela coligação Força Portugal (escolhido tarde e a más horas, o que também impossibilitou-o de aparecer em cartazes). Face a isto, o PS foi o primeiro a apostar numa estratégia para as eleições, que se consubstanciou na metáfora do cartão amarelo, de imediato seguida pela "resposta" da coligação, imagine-se, um cartão vermelho.
Além da fraca sugestão, urge indagar o que compreende então o comum português destas mensagens. Antes de mais nada, que alguém quer admoestar o Governo em exercício de funções e que os partidos que o apoiam ainda se escondem no passado para se defenderem. Preocupante é que em lado algum se faz referência a umas eleições que estão demasiado próximas, de temas que nunca foram abordados em tempos recentes. Por aqui observa-se a verdadeira consternação da classe política com o fenómeno da abstenção. Também se compreende que eleger deputados para o Parlamento Europeu não é motivo de trabalho. Em bom dizer, sabe-se das "folgas" e "flexibilidades" da função, mas numa estatística recente a maior parte da população portuguesa não conhecia os cabeça de lista de cada partido. Digam que é sobretudo nas ideias que apostam, muito bem, mas se nem sinal delas...
O Dr. Mário Soares comentava há poucas semanas que a renovação democrática é positiva, atendendo ao agrado de ver um partido suceder a outro na chefia do Estado. Mas para que tal aconteça é necessário providenciar alternativas e dá-las a conhecer com antecedência. Ora o que neste caso acontece é que nada se conhece. Por muito podemos falar numa não-comunicação assente no pressuposto necessário da distinção. Regra básica do marketing é a diferenciação, se existe a pretensão de criar escolhas, as mesmas devem ser comunicadas dentro de uma lógica de afastamento das restantes, ou seja pela diferença criamos a nossa identidade e o nosso lugar. Isso não acontece com cartões, escrevam o que quiserem por baixo, deêm-lhe a cor que vos apetecer.

18.5.04

E se pedirmos por favor? 

Acredite-se ou não, as "Festas vêm aí...", outra vez!
Esta exclamação porque quem tem acompanhado o período das Festas de Lisboa tem também verificado que em todos os anos altera-se a comunicação e divulgação das mesmas. Terei que admitir que defendo um valor de continuidade, ou no mínimo uma presença visual que aponte para uma identificação, ou da cidade ou do evento. Mas de todas as campanhas, de todas as ideias, de todas as estratégias, alguém (na Egeac?) escolheu a menos feliz de todas.
O ano passado foi apresentada uma imagem que divulgou o evento, tratava-se de uma sardinha isolada num mupi quando tinhamos sorte, ou uma quantidade delas que "voava" pela cidade de cartaz em cartaz, para nosso azar. Pois é esta que parece ser a comunicação deste ano. Pelo menos é o que dá para perceber pelos postais que já circulam pela capital.
Ora eu quer-me parecer que será objectivo das entidades ligadas ao evento trazerem o maior número de pessoas possível, não só residentes mas sobretudo habitantes da periferia, turistas, quem sabe aproveitar o ambiente gerado pelo Euro 2004 e que fará permanecer cá tanta gente. Deduzo eu, até poderei estar a ser ingénuo, que faria sentido comunicar esse sentimento de "festa", o que talvez não se coadune com ver uma sardinha meio-morta (não interessa de quantas cores a pintam). Outra coisa será que esses mesmos responsáveis talvez quisessem que todos entendessem que essas mesmas Festas se passam de facto em Lisboa. Eu, quando me falam de galos, lembro-me de Barcelos; quando me falam de sardinhas, lembro-me de Setúbal. Creio que até nem há estatísticas sobre as Festas, era possível descobrir que até se come mais entremeada... mas isso também não deve interessar.
Incomoda-me que na comunicação não exista uma ligação aos verdadeiros factores que movem e que inclusivé, lhe dão nome. O exemplo que me parece mais óbvio será o das Marchas. Que um acontecimento como este até nem precise de muita divulgação, dado o seu conhecimento, tradicionalismo, etc, aceita-se. Mas julgar que por isso não é necessário renovar a celebração e fazer todos acompanhá-la, soa-me a leviano.
Não sei quem concebeu a campanha de 2003, mas este ano o postal já vem assinado "Silva!Designers". Conhecidos que são os trabalhos que o Jorge Silva tem tido nos últimos anos, dá vontade de perguntar: Não se arranjava nada melhor?

10.5.04

Será assim tão descabido? 

O Festival de Publicidade e Design do Clube de Criativos de Portugal é conflituoso.
Isto não é o mesmo que dizer que não o defendo. Julgo que de algum modo é útil, mas confesso não ser apologista de "misturas", pelo menos aqui. Prossigam, mas porque não chamar-lhe apenas Festival de Publicidade? Que seja criado outro e aí seja dada atenção exclusiva ao design. Não será isto razoável, o promover a actividade e os esforços que anualmente os designers nacionais dedicam à economia portuguesa? Se o Clube dos Criativos (isto é preciso conter-me, saia já alguma coisa daqui) não distingue entre uma e outro (entenda-se Publicidade e Design), há quem o faça e bem; dirão que a distinção é difícil. Concerteza. As Finanças e a Economia também estão muito relacionadas, mas não vão para o mesmo Ministério (perdoem-me a analogia política).
E em que me baseio para comentar?
Diferentes actividades com diferentes formações não se distinguem na prática, não favorecendo consequentemente os interesses dos potenciais clientes. As agências de publicidade vendem já o "pacote" completo, servindo muitas vezes alhos em vez de bugalhos. Mesmo os gabinetes de design estruturam-se já como se de uma agência se tratasse, não porque tenha de ser, mas porque é o modelo que conhecem e com o qual se conformaram. Diogo Anahory escrevia no Anuário do 5º Festival o seu espanto pela rapidez com que o júri se tinha despachado. Eu diria que não me espanta nada. A maior parte dos membros já trabalhou em tudo o que é agência em Portugal; se isto não conduz o meio a uma homogeneização, então o que é que poderia?
E sobretudo custa-me ver as edições anuais deste Festival, onde para variar os trabalhos premiados na área de design estão reservados para último. Se formos atentos, este Clube até já faz o que aqui proponho, a primeira parte do livro tem anúncios, a segunda os objectos impressos.
Haverá falta de meios para dois festivais anuais?

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