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5.2.06

Amigos e dinheiro 

Sempre tive o hábito de considerar os cursos de Design no Ensino Superior como algo mais do que uma simples preparação para o trabalho desenvolvido fora da Academia. Sendo que a média destes cursos percorrem quatro anos de formação, parecia-me credível haver tempo, espaço e disponibilidade para elevar as exigências e possibilitar aos alunos a criação e/ou compreensão de metodologias capazes e eficazes para que nem todos os formados caíssem nos mimetismos, por vezes estagnantes, por vezes inúteis dessa criação do ensino que é o “mercado de trabalho”.
Continuo a acreditar nisto. Mas com uma notável excepção: não acredito que estes cursos estejam, de facto, a preparar seja quem for, de modo conveniente, para o pânorama actual e futuro de trabalho real na área a que se propõem. Ou seja, continuo a crer que a formação superior deve servir para uma boa e elevada preparação dos alunos para as dificuldades, desafios ou expectativas da realidade fora do âmbito académico e da sua superação através de um contributo gradual e colectivo da aposta do índividuo observador, criador, analítico e objectivo; por tal contribuinte de um melhoramento do mundo e da cultura material. Mas se me apercebo que os cursos de Design do Ensino Superior nacional não requerem este esforço intelectual e conceptual, esta mais valia projectual; é ainda mais grave e decepcionante constatar que também não desempenham com eficácia o primeiro objectivo no qual os principais responsáveis dos mesmos se lançam e por vezes se regozijam. Os planos curriculares são estabelecidos numa escada onde apenas no último degrau é dada atenção às matérias de índole mais negocial e administrativa, como se estas fossem um acréscimo à fabulosa preparação projectual que os mesmos não têem. Como se na maioria dos casos (convém não esquecer o elevado número de designers que Portugal anda a formar por ano), os primeiros anos de trabalho não defrontassem estas questões e até se debatessem insistentemente com elas.
Isto não será difícil constatar, a obtenção de um primeiro emprego, seja directo ou por vias de estágio (por vezes mais do que um), a ignorância sobre questões que deviam ser dominadas como o tipo de emprego a procurar (num atelier, numa agência, numa empresa não directamente ligada ao design) por análise pessoal das características e das valências individuais, o desconhecimento das hipóteses e processos de formar uma empresa ou ideia própria, os meios de divulgação das mesmas; a importância da constituição de um portfolio relevante, a ingenuidade perante as regras dos contratos de trabalho e outros casos não tão pontuais como desejados: as avenças, os recibos verdes, etc.
E acima de tudo, o que durante a formação todos os docentes escondem ou procuram evitar dizer: o social. «Friends and money.» é o que Alexander Gelman diz ser essencial para o designer actual e não espantará que no nosso país, também isso prevaleça. Será melhor designer quem tiver mais amigos e em melhores posições, porque vai transformar isso em oportunidades de negócio, ou em grande quantidade ou em grande qualidade.
Resta saber se os docentes do Ensino Superior não o dizem porque não acreditam ou porque não concordam. De qualquer das maneiras não será pertinente, sabemos que a maioria não se dedica ao design, só ao ensino.

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